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quinta-feira, 29 de março de 2007

O dançarino e a Platéia

Esse blog parece estar virando uma extensão do espaço terapêutico. No final das contas, acabo, toda semana, falando de como me sinto logo após a terapia.

Claro, nunca havia deixado isso claro. Mas é exatamente isso. Terapia e... Post. Acho que nem precisa dizer o porquê.

Hoje pensei em algo mais como uma pequena descrição-conto ou conto-descrição:

O dançarino e o palco

Era um teatro sujo, desses quase falidos, já construídos na época dourada em que a Cinelândia não tinha esse nome por acaso. A madeira que cobria o pequenito palco já mostrava sinais do avanço do tempo. As cadeiras, algumas já nem mais tinham acento; outras, o encosto.

De qualquer modo, acento não importava. Era um desses teatros feitos pela vanguarda sessentista, em que as peças eram representadas bem no meio do público.

O público de hoje estava já a postos, de pé ao redor do pequeno palco. Ansioso. Os corpos invadiam o espaço de encenação. À direita, os de direita: retos, corretos, direitos; à esquerda, os de esquerda: revolucionários, rebeldes, sonhadores, idealistas, comunistas, socialistas e o cidadão comum com senso libertário.

O bailarino, trajando uma calça jeans, havaianas e camiseta preta, entra pelo meio do público e coloca-se no centro do palco. A dança já vai começar.

Um som estranho sai pelas caixas de som. O chiado era ensurdecedor no começo, mas o fenômeno da acomodação sensorial viria a ajudar: os alto-falantes já estavam velhos e não aguentavam uma música tão potente quanto essa, que deveria, em-si, remeter à própria condição da vida.

Murmúrios espocaram por toda a platéia. Era o bailarino girando sobre seus pés. "Narcisista! Individualista!", diziam ao vê-lo rodopiar. E ele, o bailarino, que não tinha espelhos mas via-se no olhar de cada um daqueles que o olhavam, percebeu que deveria mudar o passo.

Caminhou a passos lentos para a direita. Seu andar preso, seu ritmo arrastado, sua precisão e seu método: cada um de seus gestos perdia-se em si e na busca da ética "direitista". A retidão, o ser correto, o ser certinho, o ser perfeito, o ideal de perfeição realizado em si era aprovado pelo olhar daqueles que o olhavam daquele lado do palco. E ele dançava.

Contudo, caiu na besteira de olhar para o outro lado do palco, aquele lado em que estavam os "de esquerda". E deu-se conta de que ele, o próprio bailarino, não era tão reto assim. Não era tão correto assim. Não era tão perfeito assim.

Decidiu arriscar-se. Embrenhou-se na mata escura do incerto. Arremessou seu corpo para o lado esquerdo do diminuto palco e soltou passos esdrúxulos: ora pulava como macacos, ora usava o braço para imitar a tromba de um elefante, ora erguia o dedo médio e mostrava para todos na platéia. E ficava satisfeito.

Entretanto, olhando para a direita, viu-se refletido nos olhos da platéia "do lado de lá". E se eles o abandonassem? E se eles preferissem buscar outro dançarino, algum que dançasse eticamente, detidamente, metodologicamente? Vagarosamente, esgueirou-se para o outro "lado de lá", voltando à dança milimetricamente medida, comedida, milimetrada.

No entanto, olhou para a esquerda e viu que aquele lado do palco o aguardava...

Uma vida de espetáculo. O movimento continua. O mais interessante é que, até agora a platéia não dormiu. Mais interessante ainda, todavia, é que o bailariono, ele mesmo, continua movendo-se para lá e para cá. Acreditava ele ser melhor mover-se dos dois lados do que dizer de que lado se prefere ficar.

terça-feira, 13 de março de 2007

Torpor

A edição eletrônica do "Aurélio" insiste em abrir em alguma palavra de sentido positivo. Hoje abriu em estima. Outras vezes abrira em adjetivos como "lindo", "maravilhoso" e coisas afins. Poderia também colocar como definição de lindo "Rodolfo; "maravilhoso"?, "Rodolfo" etc. Mas não é o que acontece. Seria demais o Aurélio reconhecer-me, mesmo no verbete "insignificância".
No dia entorpecido de hoje, o Aurélio diz: "estima". Será que ele está querendo me dizer alguma coisa?

Mas o torpor nem me deixa pensar. E se dissesse? Estaria se comunicando comigo através das ondas eletromagnéticas que dizem sair da tela do computador e afetyar o cérebro? Sendo assim, será que lendo e relendo a tal palavra, coloco-a (a "estima") em mim mesmo e elevo-a em mim?
Fato é que o torpor nem deixa que isso aconteça (se é que isso aconteceria). E então procurei pelo que queria. Exatamente. "Torpor":

1. Entorpecimento
2. Indiferença ou inércia moral.
3. Med. Ausência de resposta a estímulos comuns.

De fato, hoje constatei que não reajo a estímulos comuns. Ou melhor, não reajo de modo comum aos estímulos comuns. Nem sou capaz de felicitar-me com o caráter único de minha personalidade. Aborreço-me com isso e, por isso, o torpor.

Como não consigo dizer não a algo que não quero de fato. Como não consigo dizer basta a uma situação incômoda. Como não consigo decidir-me, a não ser pela indecisão. Como não consigo posicionar-me (e o não posicionar-se, como bem esclarece Sartre, já sendo uma posição, me entorpece mais ainda, pois posiciono-me na não posição). Tudo isso contribui para a sensação de incapacidade, de inabilidade, de insanidade e todos os outros "-idades" que possam me ocorrer.
O torpor... Acho que a medicina errou (ou o Aurélio) ao dizer que é ausência de respostas a estímulos comuns. OU então fui eu que errei ao escolher esta exata palavra para descrever meu momento. De qualquer modo, me aproprio do termo e o re-defino (o famigerado hífen... mais uma vez):

Torpor - sensação experimentada por aquele que, nunca tendo percebido-se senhor de sua vida, dá-se conta de ter, desde o princípio, segurado às redeas que a guiavam. Agora, este indivíduo vive a tensão entre lançar mão das rédeas (que já estão e desde sempre estiveram em suas mãos) ou então segurá-las como sempre as segurou: inseguro e deixando que a guiassem. O torpor é, invariavelmente, anterior a uma decisão profunda, divisora de águas, marcante (e qualquer outra expressão hiperbólica que possa me ocorrer). O torpor... O contrário da "indiferença e inércia moral". O torpor - a tomada de consciência.

sábado, 10 de março de 2007

É só mais um dia comum. Mas, de fato, a gente acorda e sente que há algo de diferente.

Quem vai dizer que é ruim ter todo mundo com as atenções voltadas a você? E não é exagero dizer todo mundo, porque o meu mundo é formado por quem faz parte dele. E se faz parte, certamente liga, manda scrap ou qualquer outra coisa.

Enfim, o post é para quem quiser ler, mas é uma agradecimento especial ao scrap de uma pessoa muito especial que sei que visita o blog. Sá, te amo!

"É,rapaz...vamos ser francos: independente de como o sujeito se sente a respeito de fazer aniversário, de ficar mais velho...em algum lugar lá dentro da gente, alguma coisa vibra em saber que é um dia em que as pessoas param, lhe procuram pra dizer coisas boas, falam, muitas vezes aquilo que não falam em nenhuma outra data, enchem seu orkut de scraps e seu celular de msgs...É ou não é?É dia de se sentir querido e especial.Rô, eu sou somente mais uma pessoa dentre as tantas que te gostam, te admiram e te querem ver bem e feliz.Apenas aproveitei a data que, como disse, é quando a gente pára, volta o pensamento para o outro, lembra tantas histórias especiais já vividas e resume dentro de si: putz, eu amo esse cara!Feliz aniversário, Rô!Faça dele um dia feliz- não por convenção, mas por...por que não?rsrsrsrbeijos "

Ainda me lembro da carta que recebi quando fiz 18 anos... Aniversário legal aquele... Teve bolo, chapéu do Harry Potter, bola, nariz de palhaço. Apesar de termos sido só 4 pessoas ao todo em casa, parecia uma boate lotada! E a carta: "agora você já pode ser preso". rs

E todo ano recebo algum scrap ou e-mail especial e tão legal que este ano resolvi colocar aqui.

Sam, já são 4 anos e um pouquinho que nos conhecemos. Mesmo distante, me sinto perto.
Beijos pra ti tb.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Cartão-conto-conjunto

Fiquei um tempo tentando escrever alguma introdução para o texto abaixo. Mas é simplesmente impossível “apalavrar” sentimentos. Então vai sem prólogo mesmo.

Há, sim! São três as autores do texto! Três amigas perfeitas (e nem tão fúteis qnt o texto diz rs Viu, Ingrid?!!! rs): Ingrid, Aline e Vívian! Muito obrigado, meninas! To espalhando o que aconteceu ontem na empresa pros quatro cantos rs... O povo de Sapucaia vai começar a copiar a idéia, eu acho... "fessssta" rs

Cartão-conto-conjunto de des-aniversário!

(Para ser aproveitado, também, nos outros 364 dias do ano)


O rapaz abriu os olhos e pensou: "É...chegou outro aniversário" E antes que pudesse terminar esta frase em seu pensamento seus olhos já tinham percorrido todo o seu apartamento, que podia ver dali mesmo, com a cabeça ainda em seu travesseiro roxo, ele pensou em tudo que já tinha vivido e conquistado até aquele momento.

Chegou à conclusão de que não haviam motivos para comemorações.....
Não que sua vida tivesse sido uma completa desgraça até a presente data...nada disso.
Resolveu que justo neste dia não comemoraria e se dedicaria à comemorações diárias em todos os seus desaniversários.....todos os outros 364 dias do ano seriam palco dos momentos voltados para reflexões e busca de sentido....era isso!
E era esse o caminho para se livrar de mais uma das tradições idiotas impostas a ele durante toda sua vida!
Percebeu, verdadeiramente, que esta poderia ser a primeira etapa para se "libertar" de certas convenções que o sufocavam...

Foi quando ao olhar pela janela viu que o maluco que morava em frente, um andar abaixo, estava nu e se sacudia diante da janela gritando a plenos pulmões:

FELIZ ANIVERSÁRIO RODOLFO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Então o rapaz continuou a gritar: "Suas amigas fúteis pediram para te entregar estes presentes" disse o louco sacudindo sacolas de lojas caras e ao mesmo tempo o seu...o seu...BILAU!?!!?!

Rodolfo se viu em um pesadelo: todas aquelas sacolas de cores gritantes (como só as sacolas vindas de "magazines" que comercializam coisas fúteis são) e mais aquele bilau fazendo o pirocoptero à sua frente era, sem duvida, a visão do inferno!!!!!
Ele fazia força para acordar pois, é claro, com certeza ainda estava dormindo !!

E ao se dar conta disso simplesmente liberou mais esquisitices neste sonho insano; A vaca do Milka, bolinhos de chuva, Sartre e Simone gargalhavam e bebiam champagne, sem parar e em close da pia da cozinha, patins, re-petições, livros, pasteis e sem dúvida alguma...o cheiro, que era do ralo, não era dele. Ahhhhhhhhhhhhh.....cordou!

Suado, em sua própria cama, agora sem travesseiro roxo nem vizinho louco. Nem Sartre nem Simone, apenas um envelope vermelho jazia sob a porta do seu apartamento.




E agora sim....


Feliz aniversário Rodolfo!!!!

quinta-feira, 8 de março de 2007

Para aqueles

Para aqueles que leram diversas vezes o mesmo trecho de texto (aquele sobre o trecho de "Blues da Piedade"): podem retomar a leitura, pq agora ela tem fim. rs

O "efe" de "chefe"

Poderia não ser ele. Mas era ele. E o mais engraçado (de toda a cena aliás e, por isso, o que mais me chamou atenção) foi o fato dele ter se sentido mais responsável que eu pela cena ridícula.

Chegou a ficar ruborizado.

Não é meu chefe. É mais, bem mais que isso. Ele é o chefe do chefe do meu chefe. Chefe parece uma coisa que não é, fiquei aqui pensando. "Chefe" parece algo tão xinfrim... Mas sabemos que é algo importante. "Chefe" parece, definitivamente, uma palavra onomatopáica ou alguma palavra criada para criar aliterações com a letra efe, como em:

Self, chefe.
Chefe, self.
Self.
Chefe.

Entenderam??? (risos) O som do efe... Enfim...

Mas era ele: o chefe do chefe do meu chefe. E era eu: o subordinado do chefe, subordinado ao chefe, subordinado ao chefe (que era ele!). E era também a esquina do corredor dos banheiro com o corredor das estações de trabalho (quem fica em baia, é cavalo... Aprendi isso desde criança).

A cena foi ridícula: eu fiz a curva, ele estava bem pra fazer a curva também. Um parou em frente ao outro. Os dois deram um grande e único passo para a esquerda (na verdade, o dele foi para a direita - obivamente, já que ele estava indo em outra direção). Os dois rimos e ele disse: "Olha eu. Ops. Desculpa".

Claro, seria demais querer que ele dissesse meu nome. Ele não sabe meu nome. O que, aliás, é uma grande vantagem. Hoje, tomando banho antes de ir para o trabalho e de toda a cena acontecer, pensei nessa possibilidade de que eu fizesse uma grande merda, mas nenhum chefe (olha a palavra aí de novo. E pensando bem, ela remete a algo mais que onomatopéias e aliterações. Parece uma coisa de índio... Sei lá, xamã, cacique... Acho que por pouco, mas muito pouco mesmo, os índios não chamam cacique de "chefe"... Enfim, chefe parece uma palavra indígena) saberia que eu sou eu e, então, eu passaria despercebido e continuaria fazendo meu trabalho anonimamente.

A situação de hoje não me dá um nome para ele. Continuo sendo o "José", personagem de "Todos os NOmes" do outro José (o Saramago). Mas é melhor sem nome mesmo e esse post não é uma reclamação da "anonimidade cotidiana". O que é importante é a mudança que se deu em mim: o cara, o chefe, é gente e sentiu-se responsável por aquilo. Não era eu, era ele, entendem a grandeza do ato?

Ontem no almoço eu, Aline e uma mulher do trabalho conversávamos sobre a individualidade e como isso leva as pessoas, às vezes, a não perceberem-se parte do mundo e a não se responsabilizarem pelo que acontece a seu redor. Como quando uma pessoa entra e outra saí do metrô e as duas se acotovelam, como se ambas tivessem razão em buscar, desperada e violentamente, conquistar o espaço desejado dentro e fora do vagão.

E um "chefe" tem muito mais para viver essa individualidade descomprometida com o mudno do que outras pessoas. Primeiro, porque ele ganha bem e pode ter tudo (falo aqui de uma sensação de onipotência). Segundo, por que ele sempre está numa posição de ordenar (o que nos leva à mesma onipotência). Terceiro, porque ele, face às duas opções anteriores, pode acabar acreditando que só ele "é", que só ele "existe".

Não foi isso que eu vi na curva do corredor dos banheiros com o corredor das estações de trabalho. Vi apenas um homem que se percebe co-responsável pelo mundo a sua volta. Será que ele faz terapia? (risos)