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segunda-feira, 31 de março de 2008

Clarice 2

Da Continuação de Clarice
ou Da pouca vergonha
ou Como assim num ônibus
ou A moça e a senhora que palitava dentes
ou Do gozo com a idéia
ou Torno público ou resguardo a imagem de minha personagem?
Pois que fodi-me todo, isso é verdade. Mas não é nenhum fardo com o qual tenha que lidar a contragosto. Gosto de olhá-la de longe. O sorriso de Clarice me domina. Já não sei quando sou eu que sorrio ou quando o sorriso é o dela. As verdades sobre Clarice ficam como as moscas que me impedem de dormir. Por mais que eu tome banho, asseie a casa, use veneno, as malditas moscas ficam lá, rodeando minhas pernas e meus braços. Meus ouvidos escutam seu zunido e tenho que admitir: já não é possível dormir, apesar do sono. Assim são as verdades de Clarice em minha cabeça. Clarice não deveria estar em mim, não tivesse eu ousado invadir-lhe a vida e falar de um dia em que chorou por três horas e e quize minutos sem pausas. Não deveria estar em mim caso eu não a tivesse deixado entrar. Demorei-me demais olhando a menina e agora é ela que me olha enquanto tento dormir. Não consigo dormir com seu olhar claudicante sobre mim: “Me escreva”, pede ela com aqueles olhos de casta falsidade. Pudera eu tratá-la como ela trata os mendigos da rua e a enxotaria de minha casa. Clarice não está em minha casa, contudo, e sim dentro de mim. Penso Clarice e a vejo, assim como outrora a moça via Felipe. Sempre soube que se me demorasse demais naquele texto, iria acabar apaixonando-me por ela. É que tenho essa tendência infantil a estabelecer relações amalgamantes com tudo aquilo que me vem ao encontro. Especialmente se nada me vem ao encontro e coisa já está dentro de mim. Desta forma, não preciso de amálgamas, apenas preciso aceitar o fato de que, sim, estou apaixonado por mais uma idéia. Clarice é minha idéia. Clarice é, também, uma moça da vida. Não uma mulher da vida, mas uma moça com existência comum e, a título de prova, ela me garante que caga. Todos os dias, diz-me ela, cago, ao menos uma vez por dia. Tenho uma pontada de inveja dessa regularidade com que ela consegue ser normal. A moça das minhas idéia é mais normal que eu: caga e apaixona-se por pessoas de verdade.
Decerto que nem sempre foi assim. Já foi dada a amar idéias, a mocita. E amou uma idéia tão loucamente em si que, em dado momento, era difícil dizer o que era idéia, o que era Clarice e o que era amor. Agora sou eu que me vejo nesta situação ridícula de amar quem não existe. Já Clarice, tendo abandonado o amor pela idéia que tinha de Felipe e tendo, inclusive, escrito uma carta malcriada para o rapaz, sob a insígnia de “apenas mais um conto de fim de noite” que, como os outros, publicara em seu sitezito, já ela ama um rapaz de verdade. Deitada, minutos antes de cair no sono, Clarice pensa se Alex era um nome que ia bem com o dela. “Clarice e Alex” ou “Alex e Clarice”, qual seria mais sonoro? O som é importante para as palavras, bem como o silêncio. No silêncio é que mora o dito, mas no som é que as palavras se falam a si. Queria gritar de modo que Clarice ouvisse o quanto a amo. Nota mental: tenho que parar de falar de mim, que o texto é sobre Clarice. Suas pálpebras, pesadas pelo sono, fecham-se lentamente agora. Aproximo-me de seu ouvido e susssurro “Autor e Clarice. Clarice e Autor”, mas ela acorda de sobressalto. Despertei-a sem querer. Queria mesmo que ela se acostumasse com a idéia de amar-me, mas não controlo Clarice. Apenas escrevo sobre ela.
Desperta, vejo-a sentar-se em frente ao computador. Este seu amigo, o computador, tem muita importância em sua vida desde que outro amigo dela a indicara um site em que poderia conhecer todo o tipo de gentes. Com um sorriso largo no rosto (acredito tê-la ouvido gargalhar de um prazer de gozo), escreve para Alex: “Querido, queria ver-te. Sei que moras longe, mas poderia ir visitar-te qualquer desses dias... Talvez em seu trabalho”. E depois disso, perdi-me da menina e tudo o que sei é o que ela mesma escreveu em seu site. Alguma coisa sobre uma boate em um país distante onde as pessoas são frias e distantes. Alguma coisa sobre corredores infindos e confusos e um closet misterioso do qual preferiu não dizer nada. Ou melhor, do qual não tinha nada para dizer, pois não foi capaz de recordar-se. Recordava-se apenas e com muita clareza, dos olhos de Alex pousados nos dela. Lembrava-se do calor saboroso dos lábios de Alex pousados em seu pescoço e do sabor calorento que os lábios dela sentiram ao beijar a carne macia logo atrás da orelha do rapaz. Memorável fora o momento em que sentira as mãos fortes de Alex em sua virilha. Sentiu seu corpo liquefazer-se e, úmida, pediu que ele a penetrasse. Recordava-se, acima de tudo, de tê-lo sentido dentro de si algumas vezes aquela noite e do macio das plumas penduradas em um cabideiro próximo à parede em que deixou-se ser possuída por aquele que já a possuía antes mesmo daquele primeiro encontro. E trazia consigo, bem fundo e ecoante, o que o rapaz lhe disse ao fim da noite: “Clarice, me perdoe. Eu devia ter dito antes, mas... É que... Bem, sou gay”. Era gay e nem tudo podia ser perfeito. Apesar do sexo ótimo, era gay o Alex. Há infantes gays? Pois que dizem que um dos Joões, da família real portuguesa, era dado à felação. Não que gostasse de fornicar pelo buraco de trás com jovenzitas do reino. Dizem por aí que era “biba, bibíssima, bibérrima”, contou Alex a Clarice numa outra oportunidade. João dava a bunda pelo reino e comia sua esposa no fim da noite. O que haveria de errado, então, em Alex e Clarice terem tido uma noite estupenda de amor entre as quatro paredes do closet?
A questão seria como trepar novamente com um viado. Clarice nunca foi de ter preconceitos, mas é que gostava de sexo. O sexo era para ela uma possibilidade de libertação de si mesma. Eu me livro de mim por Clarice. Ela é minha ferramente. Para ela, o sexo servia como escape e o momento do gozo era o momento em que não tinha sequer contato consigo mesma. Clarice adorava o gozo e isso não seria novidade, pois todas as gentes também gostam. Era assim que eu pensava, até perceber que as gentes gostam do gozo pela sensação de relaxamento, pelo prazer que ele traz, por aquilo que o gozo, em se tratando de gozo, em si mesmo é. Clarice gostava do gozo para esquecer-se de si. Quando gozava, era um nada. Mesmo no sexo, era nada. Como diria Genet, Clarice queria ser apenas o buraco para que o outro depositasse nela seus líquidos, queria alienar-se de tal modo de si que nada seria. Só o gozo isso lhe permitia. E como garantir o gozo diário com um gay ao seu lado? Se algum dia ele viesse a falar e seu desejo pelo mesmo sexo falasse mais alto? Como seria gostar de um viado?
Clarice está no ônibus. Segue para a casa de seus pais. Têm a sensação de que Alex ainda está dentro de seu corpo. Tudo em que consegue pensar é Alex. Até mesmo suas idéias sobre o lugar que mora passam, invariavelmente, por Alex. O ônibus segue trepidante. O sol lá fora deve estar mais quente que o ar condicionado gelado dentro do coletivo. Clarice queria estar lá fora e sentir o sol em seu rosto. O calor do sol em seu pescoço talvez lhe lembrasse de quando os lábios quentes de Alex a tocaram. Olhando Clarice, tenho vontade de gritar para o mundo que ainda há beleza. A paixão nos cega a todos. As dores nos cega a todos. E se há beleza, as gentes perderam a capacidade de vê-la. O coração exultante de Clarice, porém, abriu-se ao mundo e vê a beleza. Clarice deseja gritar, num ímpeto, estridente e altisoante, um longo e súbito “Ah!”, que ela exulta de felicidade. Todo seu corpo responde em felicidade ao mais leve anseio da moça. Seus lábios, por exemplo, por mais que ela tente refreá-los, seus lábios são só sorrisos e seus pensamentos são só Alexes. Vou parar este ônibus e pedir para que esperem que Clarice grite. Me dá angústia ver tanta felicidade contida. A felicidade, quando existe, deve ser posta para fora. Não para que gaste e termine. Mais mesmo para que seja plenamente vivida. A felicidade deve ser gritada! Este é o compromisso humano com a felicidade. Senão, a felicidade vira amargura e o que fizemos dela? Felicidade que não se grita dá tanto câncer quanto tristeza. Imagino como seria se Clarice se ergue-se de sua poltrona e gritasse dentro do ônibus: “Senhores, estou feliz por que amo! Senhores, fui também amada e, ah!, isso é tudo o que alguém pode querer. Há vários de tipo de amor, mas deste é dos que tem volta. Eu mando, ele retorna. Senhores! Ah!”, e falaria sobre como sentiu a carne de Alex invadindo a sua.
Ainda era capaz de lembrar-se, já bem o sabemos, de como foi o encontro e do que Alex lhe dissera. Já deixara de pensar em como seria namorar com um gay. Se era do desejo de Alex, não haveria problemas. O desejo move o homem e como os milagres para as montanhas, é capaz de tudo mudar. Não importa o que Alex tinha vivido até ali, mas sim o que ele desejava viver de ali para adiante. Sem preocupações, então, e plena de felicidade, Clarice esqueceu-se mesmo que estava em um coletivo e que as pessoas a olhavam. Pudera eu esquecer-me que há um olhar que me olha e também faria o mesmo, sem pudores. Clarice lambeu seus dedos. Fechou os olhos e lambeu os dedos em lascívia. Viu diante de si o infante. Alex a aguardava no balcão da chapelaria da boate. Ela diria: “Vim guardar contigo meus tesouros” e pensaria se estava ou não sendo piegas. Não se trataria, no entato, de ser ou não piegas. Imaginaria uma cena de filme B, atores ruins, roteiro barato e sexo animal, bastante sexo animal e ilógico. Alex lhe respondia com um olhar tão lascivo quanto o modo como Clarice lambia seus dedos: “Então passe para o lado de cá deste balcão”. Clarice via-se travada na soleira do portículo do balcão. As pernas lhe bambeavam e o coração ia acelerado. Alex caminhava em sua direção. Encostava suas mãos no pescoço da menina e, num leve giro, já tocava a nuca de Clarice, bem por baixo dos cabelos da moça. Deixava sua mão correr ao largo das costas da moça paralisada e, descendo, enchia-a na bunda de Clarice, que apertava com força, sentindo bem o buraco que havia entre um lado e outro daquela bunda carnuda. No ônibus, ainda de olhos fechados, Clarice deixou seu dedo úmido pousar sobre seus seios. Seus mamilos estavam eriçados por debaixo da blusa e a senhora da polrtona ao lado, que outrora olhava pela janela enquanto palitava os dentes, costume bastante interiorina, agora já olhava inquisidoramente para nossa garota. Os mamilos rijos de Clarice podiam ser vistos por sobre a blusa de linha que ela vestia. Gostava de usar roupas de linha para visitar os pais. Pensava que ganhava um ar mais sério com elas. Utilizando-se do que Deus havia dado apenas aos homens, Clarice unia o dedo opositor ao indicador e pinçava levemente seu mamilo direito. Em sua mente, ainda estava paralisada no portículo do balcão, a mão direita de Alex ainda apertando-lhe a bunda. Sentia agora as mãos do rapaz entrando-lhe no meio da bunda por cima da saia que vestia e sentiu que sua calcinha molhava. Liquefazia-se e calor vaporoso que saía do meio de suas pernas era o gosto que queria ter agora em sua boca. Avançou tropega para o lado de dentro do balcão. Alex subiu suas mãos até os ombros de Clarice e, não sem antes ter posto a placa de “fechado” por sobre o balcão, disse-lhe : “Venha comigo” e olhou-a fundo nos olhos. Guiou-a habilmente por entre corredores e corredores de prateleiras. Muitos deveriam ser os que deixavam seus pertences guardados naquele lugar e o esqueciam depois de uma boa noitada, seja por não lembrar-se nem sequer como ali chegou, seja por ter melhores motivos para logo sair sem antes pensar em buscar o que trouxera consigo. As prateleiras pareciam não ter fim. Caminhavam Alex e Clarice entre toques e olhares: ele deixava, por vezes, suas mãos descerem dos ombros até os seios da moça e os apertava com força, puxando o corpo de Clarice para si; nessa horas, Clarice deixava-se sentir o pau duro do rapaz tocando-lhe a bunda e pensava em como queria ser penetrada por trás. Clarice conhecia aqueles corredores. Caminhara por eles no dia anterior e dentro do ônibus deixava seu pensamento seguir os passos que fizera até o pequeno closet no final da chapelaria. Alex deveria estar em casa a estas horas e talvez dormindo, talvez arrumando-se para mais um dia de trabalho... Clarice, o sabemos, estava no ônibus e agora desistia de pinçar seus seios e enfiava lentamente os olhos ainda fechados, os dedos novamnete umedecidos por debaixo de sua saia e sentiu seu clitóris quente e úmido. Os pêlos de sua buceta sendo tocados no caminho até seu clitóris geraram uma sensação tal em Clarice que ela deitou a poltrona um pouco mais e com a mão esquerda começou a tocar seus seios com força. A volúpia do momento assustava a senhora da poltrona ao lado, mas esta nada fez a não ser olhar tudo com uma pontada de inveja, lembrando-se do tempo em que ela mesma não aguentava de desejos e entregava-se a eles nos lugares menos oportunos. Preferiu não incomodar a moça e ela mesma, a senhora, começou a sentir sua vagina dando sinais de um antigo funcionamento, há muito abandonado. Clarice continuou friccionando seu clitóris por mais algum tempo, até quando, em seus pensamentos, chegou no closet onde ainda ontem, entregara-se a Alex.
No pensamento de Clarice, Alex abria a porta do closet com um sorriso bastante sadado no rosto. Parecia dizer: “Agora te fodo”. À idéia de um Alex desejoso de fodê-la, no ônibus, Clarice deixou seus dedo médio penetrar sua buceta úmida enquanto o polegar fricicionava o clitóris. A mão esquerda ainda apertava seus seios quando Clarice, não aguentando em êxtase e já tendo completamente se esquecido que havia outras pessoas ao seu redor, soltou um gemido. Em olhar, há quem não veja; em que ouvir, há os que não ouvem, mas todos no coletivo ouviram o gemido da menina. Alguns abafaram o riso, outros murmuraram resmungos e ainda houve aqueles que ficaram a pensar se deveriam ou não juntar-se ao movimento da jovem moça da poltrona 9, pois também ficaram estes excitados. Clarice via Alex sorrindo para ela. Entrou no pequeno closet e antes que tivesse tempo de ver direito onde estava, como na noite anterior Alex lhe disse: “Não repare em nada, que este lugar guardo-o em segredo. Agora, ajoelhe-se aos meus pés”. Trêmula, Clarice obedeceu. Mas antes, fez menção de tirar a calcinha, para o que recebeu um olhar aprovador de Alex. E tendo ajoelhado-se, viu o pau duro de Alex diante de seus olhos e começou a tocá-lo levemente com a língua, e depois com os lábios, e depois com o canto da boca, até que então sentiu-o tocar-lhe bem fundo a garganta. Alex, com suas duas mãos, empurrava a cabeça de Clarice para frente e para trás, entre gemidos e uma respiração arfante. Clarice olhou para cima e viu Alex. Excitou-se tanto com a visão do rapaz excitado pelos seus lábios, que mesmo antes de tocar seu clitória, enfiou três dedos na vagina. No ônibus, fizera o o mesmo e gemeu novamente. Foi então que Clarice ergueu-se do chão, sob um olhar desaprovador de Alex, encostou-se inclinada à parede e disse: “Me fode”. Alex logo sorriu e tirou o olhar desaprovador da cara. Segurou a menina pelos quadris e sentiu seu pau na parede úmida da vagina de Clarice. Enfiava e tirava seu pau agilmente de Clarice, cada vez com mais força. Clarice movia, por vezes, levemente o quadril de um lado para o outro. No ônibus, Clarice tirou os três dedos de dentro da vagina e começou a friccionar seu clitória com bastante velocidade.
Alex tirou seu pau de dentro de Clarice, que o olhou com olhos de pedinte a dizer “Por favor, continue”. Mas Alex tinha tudo planejado. No canto esquerdo do closet ele guardava para estas ocasiões uma dessas cadeiras de abrir e fechar. Buscou logo o assento, abriu-o, sentou-se e disse: “Sente-se em mim.”. Clarice excitou-se tanto com esse pedido que sentiu que seu corpo desfalaceria de tesão. No ônibus, Clarice sentiu-se próxima ao gozo, o momento que tanto prezava.
Tirou logo a saia e a blusa e, de costas para Alex, que segurava com sua mão direita o pau ereto, sentou-se. Sentiu aquela carne quente forçando-lhe o anel do ânus. Sentia dor e parecia que alguma coisa em si rasgava, cortava. Mesmo assim, Clarice não hesitou e de uma só vez colocou o que podia de Alex em si. O rapaz lambeu seus dedos e enfiou-os na buceta de Clarice. Aqueles dedos grossos e rudes... Clarice lembraria-se deles por toda uma vida, se memórias duram tanto. Aqueles dedos grossos e rudes tocavam a parede interna da vagina de Clarice ao mesmo tempo em que ela se movia para cima e para baixo velozmente. Alex estava em êxtase. Clarice subia e descia em seu colo, os peitos da menina subiam e desciam com ela, os dedos dele iam cada vez mais fundo numa buceta cada vez mais úmida, Clarice começoua tocar seu clitóris e pediu que Alex colocasse mais um dedo dentro dela, Alex sentiu seu pau latejar dentro de Clarice, Clarice sentiu que ia gozar, Alex sentiu que ia gozar, Clarice gemeu de prazer e Alex gritou de desejo, Alex puxou seus dedos de dentro de Clarice, Clarice tocava mais agilmente seu clitóris, Alex levou as duas mãos para a bunda de Clarice e fazia movimentos para ajudá-la e erguer-se e abaixar-se no colo dele. Clarice gritou de prazer, Alex gozou, Clarice gozou. No ônibus, Clarice abriu seus olhos, o peito arfante, a respiração ofegante, os sentidos sendo recobrados e o pensamento na cena que acabara de fazê-la gozar. Ainda imaginava seu cu cheio dos líquidos de Alex e imaginava Alex suado na cadeira de abrir e fechar. Imaginava-se levantando-se, ficando de frente para o rapaz e sentando-se nele e envolvendo-o em um abraço carinhoso enquanto o beijava a testa e o rosto. Os passageiros do ônius preferiram fingir não ter visto e ouvido nada. Clarice virou seu rosto para a jaela e começou a olhar a paisagem. Estava indo para a casa de seus pais e pensava em Alex. Sim, pensava em Alex.

quinta-feira, 27 de março de 2008

O Amor e a Idéia ou O retorno de Clarice ou Da raiva que veio depois ou Amou sem ser correspondida ou Do sorriso no final ou Dos medos de ser autor

Queridos todos,
Só queria dizer, antes do texto (que é também algo que tenho para dizer) que não sumi.
Sam,
Não me esqueço de você, dear.
Sei que você visita o blog e aproveito para deixar pública (sim, algumas pessoas visitam o blog rs) a saudade que sinto de você. Não me esqueci da promessa de te visitar nos próximos dias. Creio que possa ir até o final de abril ou bem no começo de maio, quando recebo, por fim e por graças (rs) o meu primeiro e suado salário rs.
Te ligo num dia mais tranquilo, quando eu sair tarde da noite, para podermos nos falar direitinho.
Beijão!
Ro
O Amor e a Idéia
ou O retorno de Clarice
ou Da raiva que veio depois
ou Amou sem ser correspondida
ou Do sorriso no final
ou Dos medos de ser autor
ou Do amor que vem no fim
ou Sobre como terminar um parágrafo e um texto
ou Sobre viver como o mar
ou De uma existência infantil
ou Ai, meu Deus, que fazer deste texto?!


Clarice, quando deu-se por si que era possível amar sem que fosse amada, chorou compulsiva e renitentemente por 3 horas seguidas. Bom mesmo seria se sempre houvesse um retorno, pensou ela, mas aí seria como nas lojas: produto, valor, pagamento, recebimento... E acresceu ao choro mais quinze minutos de lágrimas. As relações não podiam ser tão mercantis. Haveria um amor puro? Tal coisa como um amor puro lhe fora vendida desde menina pela mãe. Ela dizia: minha filha, não existe o príncipe encantado, mas para cada pé sujo há um chinelo gasto, o que Clarice entendia como a promessa esperançosa de que no mundo havia alguém para ela, somente para ela, a espera do encontro que, por sorte ou acaso, poderia acontecer ao longo dessa vida ainda. E se não acontecesse, perguntava-se a menina; Se não acontecer será assim bem triste, respondia-se ela, e fechava os olhos tentando imaginar como seria ele, o infante.
Talvez estivesse do outro lado do mundo. E talvez não estivesse nesse mundo e aí seria triste. Clarice não é menina mais e fico pensando porque não consigo escrever sobre Clarice como se não se tratasse de uma criança. Clarice não é criança. Nem eu sou mais criança. Mas é bom pensar que as pessoas ainda sejam crianças, e que falam como crianças, e que agem como crianças. Há pureza nisso. Pureza e um certo deslocamento que torna tudo leve e fácil. Clarice traz muitos pesos consigo. Poderia falar dos pesos e ser pesado. Como é bom poder falar da leveza de Clarice, que chora e diz que pensar que não há amor puro seria "assim bem triste", como diz uma criança que não entende que o "tem" é separado do "que" e diz "você temque ou não temque?". Clarice tem vinte e dois anos e trabalha para se sustentar. Clarice mora só e é sozinha, apesar dos amigos. De fato, Clarice não pensa nisso o tempo todo e apenas segue sua vida pensando que se não houvesse a esperançosa promessa de que há alguém apenas para ela no mundo tudo seria assim bem triste, sem dar-se por conta de que muitas coisas já o são.
O infante de Clarice poderia viver na esquina, na casa ao lado, ou mesmo ser um dos mendigos de rua que ela destratava quando realmente não tinha dinheiro para dá-los. Ela não gostava de dar dinheiro, trabalhara tanto por ele... Quando chegava em casa, sozinha e com o peso da mochila nas costas, pensava que tanto trabalho seria de mais valia se pudesse ter a quem contar: “Querido, - pensava ela em poder dizer e dizia em voz alta às vezes para as paredes de seu apartamento – hoje o dia foi cansativo. Quero um abraço”, e então ela deitava-se, ligava a tevê e esquecia-se de si e do dia que tivera. Por vezes, recebia uma ligação de seu melhor amigos, Lucas, que não lhe falava nada ou lhe contava tudo. Lucas era assim bem engraçado, pensava Clarice. Conheceram-se por conta de uma autora que Clarice gosta e que carregara por toda sua vida o mesmo nome que ela: Clarice. Lucas não era o infante de nossa Clarice. E mesmo que o tal infante morasse na esquina, na casa ao lado ou fosse um dos mendigos de rua, Clarice não o veria. A solidão a cegara.
Todas as noites, antes de dormir, ela ligava seu computador e digitava algumas palavras. Por fim, chamando o que escrevia de “conto”- na verdade relatos do que ela vivia mas de um modo bem escamoteado para que nem ela soubesse que se tratava apenas dela todos aqueles personagens e todas aqueles dores de que ela tanto gostava escrever – ela os publicava num sitezito que havia criado para si por sugestão de Lucas. E lia. Lia um bocado antes de dormir todas as noites.
Uma vez, outro amigo lhe dissera: “Clarice, porque não busca alguém pela internet?”. A idéia lhe parecera, de primeira, um bocado disparatada. Pessoas não são textos, assim como seus textos não eram ela. Como já tinha ouvido falar que as pessoas mentiam nestes sites! Seria impossível – sim, impossível! – conhecer seu galante infante em qualquer lugar que não fosse as ruas da cidade, por onde andava cega de solidão.
A resistência da moça durara tanto quanto as espumas salinas de um mar bravio. Tendo tomado coragem, Clarice criou um perfil para si e entrou para um dos sites de relacionamento que seu amigos lhe havia indicado.
Pela primeira vez em seus vinte e um anos (porque isso se sucedera num tempo diferente desse em que escrevo, um ano antes do choro copioso de Clarice), escrevera sobre si: “Sou uma menina bonita, atraente e sexy”. Isso era tudo. Ela não era sexy e nem se achava bonita e atraente. Questões de boniteza e atratividade, contudo, não se devem aos olhos do escritor, mas aos olhos de quem vê, pensou ela e por isso decidiu deixar o texto medíocre no ar e clicou sobre o botão “enviar” no canto inferior direito da tela. Ela certamente podia ter escrito coisa melhor, mas por vezes tem preguiça. Eu também tenho preguiça e penso em como me pareço com Clarice. Agora mesmo tenho certeza de que deveria falar mais sobre o que Clarice pensa do que sobre o que Clarice fez. Ah! A realidade... Tão maçante escrever sobre ela, que por horas me sinto um jornalista em seu trabalho. Este texto sobre a realidade da vida de Clarice, sobre cada um de seus atos desde o dia em que decidiu aceitar o apelo de seu amigo para que navegasse pela internet em busca de um amor, me parece um erro. Clarice é um erro. Mas nisso não sou Clarice, apenas escrevo sobre ela. Seus atos fogem de mim e tudo o que de interferência tenho neles é o modo como os conto. Sei que poderia fazer melhor, assim como Clarice poderia ter escrito melhor sobre si. Não sei para quem escrevo, entretanto, e deixo o texto como ele me saiu, sem correções, sem adendos. Se algum outro detalhe me vier em mente, dilacero a história de Clarice e saio insertando-os no texto. Não tenho nenhum compromisso com ela, com a moça de quem falo. Meu compromisso é apenas comigo, quero escrever sobre ela do modo como a história dela me vem. Ai! Que Clarice não fuja de mim! Não saberia o que fazer se ela fugisse. É tão ruim quando um personagem nos escapa. Vários já me escaparam e os perdi de vista, mas Clarice ainda está diante de meus olhos e a vejo tensa em frente ao computador aguardando uma resposta ao seu “Sou uma menina bonita, atraente e sexy”.
Seu texto medíocre lhe rendera sua primeira paixão.
Amara o rapaz tão fulminantemente que nem se dera conta de que era possível amar sem ser amada. E continuou amando-o em si, mesmo quando o corpo dele já não estava dentro do dela. E continuou amando-o em si mesmo quando os olhos dele não olhavam o dela e sim o de outra mulher. Clarice fantasiava que o via antes de dormir. Deixara de ler e deixara de escrever seus contos. Perdera o rumo que seguia em sua vida de tanto amor que sentia. Algumas vezes exclamava para si: “Que boba você é! Bobinha!” e ria olhando-se no espelho antes de tomar um banho quente. Amara o rapaz mesmo depois que ele sumira de sua vida e acreditou nunca mais ser capaz de amar outra pessoa. A solidão, que outrora a cegava, fora substituída então pela fantasia da companhia. Clarice vivia com a presença etérea de Felipe, o rapaz, ao seu lado. Conversava com ele longamente sobre a vida e o encaixava em todos os seus sonhos e planos. Felipe era a certeza de que precisava para seguir a vida. Chegara mesmo a deletar seu perfil medíocre do site, já que de nada mais precisava quando já cria ter tudo o que lhe era necessário. Tudo que lhe era necessário era nada. O rapaz existia apenas para si. Nunca para Clarice. Sem perceber, Clarice amaa uma idéia.
Amar uma idéia é diferente de amar uma coisa real. Tenho medo de me apaixonar por Clarice, que é uma idéia. Se me apaixono por ela, como me distanciar se nenhuma relação real se estabelece? Se em minha idéia só vejo e crio perfeição? Felipe era perfeito na idéia de Clarice. Como ter raiva de uma relação perfeita? Como afastar-se daquilo que, de tão nosso, apesar de crermos estar fora da gente, acaba sendo nós mesmos? Quero terminar a história de Clarice por puro medo de amá-la e cegar-me como ela cegou-se. Clarice não é minha companhia. Clarice é meu expurgo.
Quando escrevemos, escrevemos sobre o quê? Escrevo sobre Clarice. Ela sou eu. Eu sou Clarice. E a vejo em frente ao seu computador após ter chorado compulsivamente por três horas e quinze minutos. Ela sorri. Há tempos não a via sorrir daquele modo.
Um ano se passou. A paixão pela idéia de Felipe perseguia Clarice como as ondas do mar. A imagem suave de Felipe ia e vinha em sua mente. Sentia saudade, não sentia saudade, sentia saudade, não sentia saudade, sentia saudade... Clarice era, ela mesma, um grande mar cheio de ondas. Foi ver-se a si na praia. Sentou-se nas pedras do Arpoador, onde estivera com Felipe um dia. Olhava o horizonte e se via. Compreendeu ali que ela era um mar, assim com eu acabei de dizer. O mar era de água. A água não era o mar, pensou ela. O mar é o mar. A água é a água. Não há mar sem água assim como há água sem mar. Eu escrevo e não existe minha escrita sem que exista Clarice, mas existe Clarice sem mim e meu amor por ela seria amar uma idéia, seria nunca ser correspondido, por isso corro e em mais dois parágrafos termino a história de Clarice, a moça que, olhando num final de tarde o mar deu-se conta de que amara Felipe sem ter sido amada por ele. Felipe, seu primeiro amor, nunca lhe amara. Não era, então, amor de verdade e os olhos de Clarice continuaram sem ver. Mas não mais pela fantasia da companhia é que ela era cega e sim novamente pela solidão obscura.
Foi neste dia que chegou em casa e chorou compulsiva e renitentemente por três horas e mais quinze minutos, quando pensou que as relações eram como um mercado. Conseguiu então, distanciando-se da idéia perfeita que fizera de Felipe e com que se relacionara por todo este tempo, ter rava do rapaz. Não do que imaginara e criara apenas para si, mas do de verdade, aquele que a abandonara e que estava, provavelmente, nos braços de outra. Sentou-se em frente ao computador e esboçou um novo perfil de si: “Sou Clarice e não existe amor”. Enviou seu perfil para o site e logo recebeu uma resposta.
Era Alex. Conversaria com ele por toda aquela noite. E por outras que ainda não viveu, mas que eu já sei que irá viver. Clarice, desde esse dia, voltou a sorrir. Um sorriso de canto de boca, um sorriso de lado a lado de face. Um sorriso de dentro. Não mudou o texto que a definia, mas se o fizesse, certamente agora escreveria algo como “Sou Clarice. Já desacreditei do amor. Agora, amo.”, mas ela não faria isso porque já não precisava do site. Do outro lado da tela do computador, falava com o seu infante, aquele que sua mãe lhe falava quando nossa moça ainda era criança e pensava que uma vida sem amor ia ser assim bem triste. E termino o último parágrafo e apago Clarice de mim para que não me cegue com a esperança da companhia dessa moça por mais algum tempo.

sábado, 15 de março de 2008

Da breve continuação do encontro no horário de almoço

Gabriel escrevera então para Guilhermina uma mensagem lhe chamando para ir ao cinema na noite daquele mesmo dia.





Aguardou por uma resposta







que não vinha.



Quando já estava no cinema, a resposta que teimava em não chegar, fora recebida com uma vibração silente de seu celular.
Mesmo na sala escura, em meio à projeção, Gabriel lera a mensagem... Responderia? Talvez... Mas nenhuma mensagem pequena seria capaz de falar do que ele percebia que tinha feito: mais uma vez, por medo diante do que procurava (pois que Guilhermina era o que ele procurava e encontrar o que procuramos, às vezes, nos dá medo), Gabriel agiu imbecilmente e usou a defesa mais comum a si: o humor deslavado e barato.
Mas talvez respondesse educadamente. Talvez fosse no mínimo educado pedir desculpas pelas brincadeiras que fizera com a distância em que a menina morava... Mas queria mesmo era que ela o desculpasse por como agira e que o desse, ao menos outra vez, a possibilidade de sua presença do outro lado da mesa.

Sobre um encontro no horário de almoço

"Está guardado comigo o seu nome"
Ferreira Gullar
O frio se adensava entre ambos como uma multidão e os separava, e os dividia, e os reduzia cada um ao seu único, desfazendo o encontro. Mas eles teimavam - sobretudo Gabriel -, eles insistiam, eles retomavam o encontro de onde este haviaparado, seé que encontro é matérias de "retomar-se". Nem mesmo a chegada de duas amigas de Gabriel impedira que ambos teimassem, insistissem e retomassem a conversa interrompida e dificultada pelo frio e pelos outros. Sairiam do café, uma hora e meia após haverem se sentado naquelas cadeiras vermelhas cheias de um estilinho metido a besta, sem nada terem combinado, sem terem trocado impressões sobre o momento que acabara de findar-se, sem promessas de futuro. Apenas o vazio do fim do encontro os acompanharia até Deus sabe quando, que é quando o vazio do encontro poderá ser substituído por algum outro vazio ou por um falso preenchimento qualquer ou coisa que o valha.
Ela se chamava Guilhermina. Procurava alguma coisa. Por não saber bem o que procurava, perguntava aos outros pelo quê procuravam. Ele se chamava Gabriel. Ele achava procurar algo que sabia bem o que era, mas quando encontrava o que pensava buscar, percebia que havia se enganado e partia em nova busca daquilo que acreditava saber que queria e, por crer saber, não perguntava a ninguém o que eles procuravam.
Guilhermina e Gabriel descobriram-se ao mesmo tempo. Ela, em sua busca cega; ele, em sua busca burra, esbarraram-sena rua,apressados que iam: ele para a empresa, ela para a academia, e trocaram telefones.
Guilhermina não era ansiosa como Gabriel,mas ainda assim ligou para o rapaz dias depois perguntando se não almoçariam juntos aquele dia. Gabriel estava doente. Apenas doente, mas logo, doente E arrependido, pois não aceitara as diversas ofertas da menina preocupada de lhe fazer companhia enquanto esta lhe fosse necessária em virtude da doença. No entanto, Gabriel preferiu deixar o arrependimento de lado e agarrou-se à esperança de ligar para Guilhermina tão logo se recuperasse. Seria então que marcaria um primeiro encontro em que pudessem sentar em algum café da cidade e conversar sobre a vida.
Foi então que, recuperado, Gabriel ligou para Guilhermina e o encontro que sabemos ocorreu e findou-se. Gabriel, agora, podia dizer ter, de fato, a certeza do que procurava; Guilhermina, para mim, contudo, continua uma incógnita após os momentos que os dois passaram juntos naquele café, já que Gabriel sou eu, que os escrevo e que procuro Guilhermina e ela não sou eu.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Parabéns para mim

O chapeleiro pediu atenção. Iria fazer um discurso para o aniversariante que, ágil, posicionara-se atrás do bolo, meticulosamente arrumado no centro da grande mesa comunal. Eram muitos os convidados que ouviriam o discurso, por isso o chapeleiro escrevera tudo em longo pedaço de papel. O papel era tão, mas tão longo que foram precisos três anões para desenrolá-lo e cuidar para que não se rompesse è medida que fosse sendo puxado pelo chapeleiro ao longo de sua leitura.
O silêncio, aos poucos, começou a reinar. As princesas e príncipes, todos presentes, as fadas, os reis e seus serventes, os bobos de três cortes diferentes, alguns súdito mais diletos, todos estavam ali e foram calando-se com o calor do abafante desejo de falar do chapeleiro.
O chapeleiro retirou o chapéu e trouxe-o, então, para junto do peito. O silêncio pesou sobre todos como uma entidade. Foi então que o discursante respirou e deu início e fim ao seu discurso:
- Querido, querido... Ai, ai... Parabéns!
O silêncio expectante continuou pesando sobre todos até que o aniversariante deu uma boa gargalhada e aplaudiu a iniciativa do amigo fazedor de chapéus: "Meu caro, meu caro, assim nem completo os 22 anos, que você me matará de rir antes de completar a hora do meu nascimento!". Todos gargalharam em conjunto e aplaudiram um chapeleiro encantado com a recepção que tivera seu pobre discurso.
Foi então que as três fadas levantaram vôo e sobrevoaram o salão velozmente. Pararam sobre a cabeça do aniversariante e a que estava vestida de verde disse:
- Querido, ah!, querido! Como é bom estar aqui ao seu lado! Por essa dádiva que me permites, te dou uma eterna coleção de amigos, que seguiram contigo por toda a vida.
A segunda, vestida de rosa, então falou:
- Querido, ah!, querido! Como é bom comer ao seu lado! Por essa dádiva que me permites, te dou um eterno suprimento de tudo o que é mais necessário ao corpo do homem: carinho, atenção e amor na medida certa.
Eis que a terceira, vestida de azul, proferiu as palavras finais:
- Querido, ah!, querido! Como é bom te ver feliz! Por essa dádiva que me permites, te dou de tudo o que precisares e que não tenhas ganhado das minhas colegas. De tudo para tua felicidade!
Todos aplaudiram esses gestos efusivamente e lembraram-se que as velas por sobre o bolo já estavam consumindo-se. Tinham que cantar parabéns!
A agitação tomou conta de todos. Os olhares furtivos eram trocados, como que em um sinal combinado para o começo da canção comemorativa.
O aniversariante, então, puxou o canto. Abriu os olhos fechados, encarou a sala vazia de seu apartamento, o bolo de chocolate posto sobre a cadeira do computador jazia a sua frente, os personagens de sua imaginação foram deixados para trás e ele cantarolou baixinho e sozinho em sua casa:
- Parabéns para mim... Parabéns para mim...