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quarta-feira, 10 de março de 2010

Ex-velhecente

Lembro-me como se já não tivesse comemorado muitos outros anos: eu sentado à porta da casa da minha vó olhando o pôr-do-sol quando me pediram para ir à cozinha: minha primeira festa surpresa! E era de palhaço!
A surpresa foi verdade. Não sei como, mas conseguiram esconder todos os preparativos de mim todo o dia. Os palhaços eram reciclagem do aniversário do meu primo, 4 anos mais novo, mas valeram como se fossem novos e como se tivessem sido feitos só para mim. Eu fazia 10 anos, mas ainda gostava dos palhaços.
Depois da festa, ou mesmo durante, pensei se isso não era doença. Naquele tempo eu padecia de velhecência: aos 10 me achava velho - na verdade tudo não passava de um esforço enorme para me portar como adulto. Mas o fato é que durante e depois da festa fiquei pensando se gostar de palhaços e ficar feliz com festa surpresa não era coisa de criança, se aquilo era coisa permitida.
Hoje, 14 anos depois, sou acordado por um olhar macio. Esse olhar me dá parabéns e me traz o café na cama. Hoje, 14 anos depois, aceito a surpresa plenamente e meu coração se abre para esse carinho sem temor: sei que amo. Hoje, 14 anos depois, me abro inteiramente para ser: eu. Hoje, 14 anos depois, já me dei conta há alguns anos de que sou um palhaço e de que nunca vou deixar de ser criança: sou feliz!