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quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Do encontro

Olhava insistentemente para o relógio. Chegaram a brincar com ele "está chato assim aqui conosco? Quer ir embora!", ao que respondeu "Não se trata disso". De fato, não se tratava disso. O ambiente era agradável. Boa música, espaço intimista, boa comida e bebida, amigos agradáveis a mesa, conversas interessantes...
- Por favor, mais uma rodada - pediu a amiga sentada ao seu lado.
- Não, pra mim não, por favor! - disse ele.
- Oras! Estou dizendo, você está estranho! Já vai parar de beber... - retrucou ela.
- Não é que eu vá parar. Não sei se dá tempo.
- Tempo? Para quê? Espera algo?
- Sim.
- O que?
- Não sei.

De fato, não sabia o que esperava. Um ligação, talvez. Um presença desconhecida. Sentia uma sensação acalentadora no peito quando pensava naquilo que lhe fazia estar ansioso àquela hora. O celular por sobre a mesa do bar era mantido sob seus olhos. O primeiro toque e sim, seria a hora.
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Estava na festa. Amigos. Bebiam e falavam sobre o que homens falam: mulheres. Vez por outra, trabalho, carro, esportes. A música de festa de São João ao fundo. Mas não estava presente nas conversas. Tudo hoje era ausência. O mundo torna-se esvazia-se de sentidos quando há diante de nós o desconhecido.
Pensava: tenho um encontro hoje e tenho ainda medo. Há tantas esperanças, tantas expectativas. Melhor seria ter permanecido nos degraus mais baixos da escada. Quanto mais se sobe, maior o tombo, minha avó sempre diz. E não quero cair. AO mesmo tempo que temo, sinto que não há porque.
- Queridos, vou partir. Nos vemos amanhã no trabalho!
- Oras! Vai cedo! Todos teremos que estar lá também! Fique mais um pouco!
- Estou cansado.
Caminhava as passos rápidos para o estacionamento.
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Em pé, em frente ao bar, esperava. O celular já tocara, já havia confirmado que aquilo por que espera, aquilo que desconhece e que, mesmo assim, é o que ansiosamente aguarda, já está a caminho.
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Ligara uma música no carro. Bjork canta:
"I miss you. But I haven't met you yet"
A mão suada no volante deslizava facilmente a cada esquina virada. O peito, extravasado em angústia, arfava em ritmo acelerado, seguindo o descompasso do coração e da respiração ofegante.
Como seria o encontro?!
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Ele entrou no carro. Olharam-se. Em meio ao silêncio, o diálogo era visível nos olhos:
- ...
- ...
- !
- ...
- ...?
- .
- !?
- ?!
- ...! ...?
- !
- .
Os olhos postos sobre o olhar um do outro. Os corpos, retesados, lembravam a tensão. Falariam sobre tudo quanto fosse natural. Seguiriam a noite conversando. Mas como será? O que irá acontecer?
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Agora tive que sair do carro. Há coisas que, mesmo narrador, não podemos ouvir ou ver.
Nos últimos momentos que vi, ainda conversavam. Pareciam bem com toda a situação. Os corpos aproximados. Os olhares em riste. Da última vez que olhei para trás, vi uma mão levantar-se, esboçando gestos de carinho no ar...

Um comentário:

Lili disse...

Ah, gostei muito.
Muito bom.