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quinta-feira, 8 de março de 2007

O "efe" de "chefe"

Poderia não ser ele. Mas era ele. E o mais engraçado (de toda a cena aliás e, por isso, o que mais me chamou atenção) foi o fato dele ter se sentido mais responsável que eu pela cena ridícula.

Chegou a ficar ruborizado.

Não é meu chefe. É mais, bem mais que isso. Ele é o chefe do chefe do meu chefe. Chefe parece uma coisa que não é, fiquei aqui pensando. "Chefe" parece algo tão xinfrim... Mas sabemos que é algo importante. "Chefe" parece, definitivamente, uma palavra onomatopáica ou alguma palavra criada para criar aliterações com a letra efe, como em:

Self, chefe.
Chefe, self.
Self.
Chefe.

Entenderam??? (risos) O som do efe... Enfim...

Mas era ele: o chefe do chefe do meu chefe. E era eu: o subordinado do chefe, subordinado ao chefe, subordinado ao chefe (que era ele!). E era também a esquina do corredor dos banheiro com o corredor das estações de trabalho (quem fica em baia, é cavalo... Aprendi isso desde criança).

A cena foi ridícula: eu fiz a curva, ele estava bem pra fazer a curva também. Um parou em frente ao outro. Os dois deram um grande e único passo para a esquerda (na verdade, o dele foi para a direita - obivamente, já que ele estava indo em outra direção). Os dois rimos e ele disse: "Olha eu. Ops. Desculpa".

Claro, seria demais querer que ele dissesse meu nome. Ele não sabe meu nome. O que, aliás, é uma grande vantagem. Hoje, tomando banho antes de ir para o trabalho e de toda a cena acontecer, pensei nessa possibilidade de que eu fizesse uma grande merda, mas nenhum chefe (olha a palavra aí de novo. E pensando bem, ela remete a algo mais que onomatopéias e aliterações. Parece uma coisa de índio... Sei lá, xamã, cacique... Acho que por pouco, mas muito pouco mesmo, os índios não chamam cacique de "chefe"... Enfim, chefe parece uma palavra indígena) saberia que eu sou eu e, então, eu passaria despercebido e continuaria fazendo meu trabalho anonimamente.

A situação de hoje não me dá um nome para ele. Continuo sendo o "José", personagem de "Todos os NOmes" do outro José (o Saramago). Mas é melhor sem nome mesmo e esse post não é uma reclamação da "anonimidade cotidiana". O que é importante é a mudança que se deu em mim: o cara, o chefe, é gente e sentiu-se responsável por aquilo. Não era eu, era ele, entendem a grandeza do ato?

Ontem no almoço eu, Aline e uma mulher do trabalho conversávamos sobre a individualidade e como isso leva as pessoas, às vezes, a não perceberem-se parte do mundo e a não se responsabilizarem pelo que acontece a seu redor. Como quando uma pessoa entra e outra saí do metrô e as duas se acotovelam, como se ambas tivessem razão em buscar, desperada e violentamente, conquistar o espaço desejado dentro e fora do vagão.

E um "chefe" tem muito mais para viver essa individualidade descomprometida com o mudno do que outras pessoas. Primeiro, porque ele ganha bem e pode ter tudo (falo aqui de uma sensação de onipotência). Segundo, por que ele sempre está numa posição de ordenar (o que nos leva à mesma onipotência). Terceiro, porque ele, face às duas opções anteriores, pode acabar acreditando que só ele "é", que só ele "existe".

Não foi isso que eu vi na curva do corredor dos banheiros com o corredor das estações de trabalho. Vi apenas um homem que se percebe co-responsável pelo mundo a sua volta. Será que ele faz terapia? (risos)

3 comentários:

Lili disse...

Você está falando do meu Chefe ou do Gerente dele?
Se for a primeira opção te conto: A mulher dele é terapeuta, e quanto a segunda: ele próprio é terapeuta, não adianta Rodolfo...você está cercado.

Anônimo disse...

Bem, já passei pela experiência de trombar com a Fátima Bernades descendo da escada rolante do shopping e eu, tentando subir pela escada errada...O mesmo "ops" sem graça das duas...e isso foi engraçado: eu estava no lugar errado...Que importância tem isso?
O pequeno estúpido pensamento que me passou na hora: imagina só, a Fátima se desculpando porque eu trombei com ela...Imagino até hoje a Fátima com aquela expressão grave que ela faz quando vai dar alguma notícia trágica e, depois, sempre aquele "ops" estabanado...
Grande bosta, mas aproveito o anonimato (pero no mucho)pra contar essa grandissíssima besteira pra você...É só porque sinto falta dos nossos papos-mesmo os mais tolos e sem sentido...
beijos, cabeção...

Anônimo disse...

Existem muitas espécies de chefes... a minha chefe atual é tão humana quanto nós, os "apertadores-de-parafuso" que trabalhamos para ela, mas ela nos lembra a toda hora de Orwell: "TODOS SÃO IGUAIS MAS ALGUNS SÃO MAIS IGUAIS DO QUE OS OUTROS".
Outra chefe dizia que quem tem chefe é índio, e óbvio, vivíamos a chamá-la de chefe apenas para tirar um sarro.
Foi a melhor chefe que tive, mas hoje, sei que ela está numa empresa maior e foi corrompida pelo poder, ainda é humana, mas apenas por educação.
Aliás, obrigado pela dica do filme "O inquilino", ainda não achei para locar, mas vou assistir.
Hell