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terça-feira, 13 de março de 2007

Torpor

A edição eletrônica do "Aurélio" insiste em abrir em alguma palavra de sentido positivo. Hoje abriu em estima. Outras vezes abrira em adjetivos como "lindo", "maravilhoso" e coisas afins. Poderia também colocar como definição de lindo "Rodolfo; "maravilhoso"?, "Rodolfo" etc. Mas não é o que acontece. Seria demais o Aurélio reconhecer-me, mesmo no verbete "insignificância".
No dia entorpecido de hoje, o Aurélio diz: "estima". Será que ele está querendo me dizer alguma coisa?

Mas o torpor nem me deixa pensar. E se dissesse? Estaria se comunicando comigo através das ondas eletromagnéticas que dizem sair da tela do computador e afetyar o cérebro? Sendo assim, será que lendo e relendo a tal palavra, coloco-a (a "estima") em mim mesmo e elevo-a em mim?
Fato é que o torpor nem deixa que isso aconteça (se é que isso aconteceria). E então procurei pelo que queria. Exatamente. "Torpor":

1. Entorpecimento
2. Indiferença ou inércia moral.
3. Med. Ausência de resposta a estímulos comuns.

De fato, hoje constatei que não reajo a estímulos comuns. Ou melhor, não reajo de modo comum aos estímulos comuns. Nem sou capaz de felicitar-me com o caráter único de minha personalidade. Aborreço-me com isso e, por isso, o torpor.

Como não consigo dizer não a algo que não quero de fato. Como não consigo dizer basta a uma situação incômoda. Como não consigo decidir-me, a não ser pela indecisão. Como não consigo posicionar-me (e o não posicionar-se, como bem esclarece Sartre, já sendo uma posição, me entorpece mais ainda, pois posiciono-me na não posição). Tudo isso contribui para a sensação de incapacidade, de inabilidade, de insanidade e todos os outros "-idades" que possam me ocorrer.
O torpor... Acho que a medicina errou (ou o Aurélio) ao dizer que é ausência de respostas a estímulos comuns. OU então fui eu que errei ao escolher esta exata palavra para descrever meu momento. De qualquer modo, me aproprio do termo e o re-defino (o famigerado hífen... mais uma vez):

Torpor - sensação experimentada por aquele que, nunca tendo percebido-se senhor de sua vida, dá-se conta de ter, desde o princípio, segurado às redeas que a guiavam. Agora, este indivíduo vive a tensão entre lançar mão das rédeas (que já estão e desde sempre estiveram em suas mãos) ou então segurá-las como sempre as segurou: inseguro e deixando que a guiassem. O torpor é, invariavelmente, anterior a uma decisão profunda, divisora de águas, marcante (e qualquer outra expressão hiperbólica que possa me ocorrer). O torpor... O contrário da "indiferença e inércia moral". O torpor - a tomada de consciência.

2 comentários:

Lili disse...

Vem cá, vai postar nada de novo não????
Este torpor está durando hein?!

Anônimo disse...

Concordo...como é que é?
Vamos soltar as palavras pros seus visitantes se deliciarem um pouco?