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terça-feira, 13 de novembro de 2007

Do existir do bobo

Houve um tempo em que andar já não era preciso. Era preciso apenas ficar sentado, no canto, refletindo e deixando cada dorzita doer.

Neste tempo, havia o bobo que, como qualquer bobo, ficava a zanzar por aí, sem rumo. Seu único projeto era fazer de si o que era a todo momento: um bobo, e seguia negando dentro em si a necessidade premente de calar-se, recolher-se e pensar sobre cada coisa que poderia lhe afligir. Mas as coisas só lhe afligiriam caso, exatamente, parasse, se calasse, se recolhesse... Só assim tais coisas lhe apareceriam à consciência em seu pleno vigor.

Por ser esse um processo doloroso, contudo, o bobo decidiu fingir que não via o que via. Não é que não saiba que sabe, ele sabe que sabe, mas finge que não sabe. E assim vive. Vive ou viveu, que os tempos verbais todos misturados na história do bobo servem para falar da besteira de crer que, através das palavras, seria capaz de esconder-se de si e dos outros.

E foi assim que morreu: bobo, sem nunca ter pensado que, na vida, poderia ter sido outra coisa.

Um comentário:

Anônimo disse...

E renasceu menos bobo e mais fiel à inconstância dos teus sentimentos.
Sem (muito) medo de ser feliz...
Né?