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segunda-feira, 10 de março de 2008

Parabéns para mim

O chapeleiro pediu atenção. Iria fazer um discurso para o aniversariante que, ágil, posicionara-se atrás do bolo, meticulosamente arrumado no centro da grande mesa comunal. Eram muitos os convidados que ouviriam o discurso, por isso o chapeleiro escrevera tudo em longo pedaço de papel. O papel era tão, mas tão longo que foram precisos três anões para desenrolá-lo e cuidar para que não se rompesse è medida que fosse sendo puxado pelo chapeleiro ao longo de sua leitura.
O silêncio, aos poucos, começou a reinar. As princesas e príncipes, todos presentes, as fadas, os reis e seus serventes, os bobos de três cortes diferentes, alguns súdito mais diletos, todos estavam ali e foram calando-se com o calor do abafante desejo de falar do chapeleiro.
O chapeleiro retirou o chapéu e trouxe-o, então, para junto do peito. O silêncio pesou sobre todos como uma entidade. Foi então que o discursante respirou e deu início e fim ao seu discurso:
- Querido, querido... Ai, ai... Parabéns!
O silêncio expectante continuou pesando sobre todos até que o aniversariante deu uma boa gargalhada e aplaudiu a iniciativa do amigo fazedor de chapéus: "Meu caro, meu caro, assim nem completo os 22 anos, que você me matará de rir antes de completar a hora do meu nascimento!". Todos gargalharam em conjunto e aplaudiram um chapeleiro encantado com a recepção que tivera seu pobre discurso.
Foi então que as três fadas levantaram vôo e sobrevoaram o salão velozmente. Pararam sobre a cabeça do aniversariante e a que estava vestida de verde disse:
- Querido, ah!, querido! Como é bom estar aqui ao seu lado! Por essa dádiva que me permites, te dou uma eterna coleção de amigos, que seguiram contigo por toda a vida.
A segunda, vestida de rosa, então falou:
- Querido, ah!, querido! Como é bom comer ao seu lado! Por essa dádiva que me permites, te dou um eterno suprimento de tudo o que é mais necessário ao corpo do homem: carinho, atenção e amor na medida certa.
Eis que a terceira, vestida de azul, proferiu as palavras finais:
- Querido, ah!, querido! Como é bom te ver feliz! Por essa dádiva que me permites, te dou de tudo o que precisares e que não tenhas ganhado das minhas colegas. De tudo para tua felicidade!
Todos aplaudiram esses gestos efusivamente e lembraram-se que as velas por sobre o bolo já estavam consumindo-se. Tinham que cantar parabéns!
A agitação tomou conta de todos. Os olhares furtivos eram trocados, como que em um sinal combinado para o começo da canção comemorativa.
O aniversariante, então, puxou o canto. Abriu os olhos fechados, encarou a sala vazia de seu apartamento, o bolo de chocolate posto sobre a cadeira do computador jazia a sua frente, os personagens de sua imaginação foram deixados para trás e ele cantarolou baixinho e sozinho em sua casa:
- Parabéns para mim... Parabéns para mim...

2 comentários:

Anônimo disse...

"amor na medida certa"... Será que basta ?

Eduardo Chacon disse...

Acho que elas estavam de fato no seu apartamento... As três estavam lá... Estavam, sim...