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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O Camelô

Senhores, boa noite!
Antes de tudo, eu gostaria de pedir-lhes desculpas por atrapalhar a calmaria de suas viagens, o silêncio deste ônibus... Mas eu poderia estar matando, roubando, assaltando ou qualquer coisa que o valha... Não, senhores! Nunca! Em vez disso, estou aqui e, mais uma vez, humildemente peço-lhes desculpa pelo incômodo.
É que o amigo traz aqui, hoje, para os senhores, uma novidade. Antes de tudo, já vou logo para a parte final: é que estas coisinhas que lhes trago não são vendidas em loja. Quer dizer, em qualquer padaria, mercado, loja de doces, em lugar algum os senhores encontrariam o que o amigo traz aqui hoje.
Por isso, senhores, elas não têm preço. Sim, não tem preço. E isso, então, os senhores já devem ter percebido, não se trata de comércio, que eu tenho meus meios de ganhar a vida honestamente sem precisar incomodá-los.
A bem da verdade, senhores, essas pequenitas bençãos vendem por aí sim. Mas quem as vende, não as têm de fato e tudo não passará, portanto, de malogro nas mãos de outrem que não eu.
Afianço-lhes que o que digo é verdade e os senhores irão concordar comigo ao final, espero. Quem as vende, não as têm e, eu mesmo, por alguns instantes cheguei a crer não tê-las mais. Sim, quase saí pondo-lhes um preço: o preço da atenção que precisava sentir a mim sendo dispendida pelos outros.
Estes outros, todos, me cobraram. Preço alto. Mas as dores passaram - ou passam, ainda.
Pois, senhores, o que lhes trago hoje são apenas coisitas diminutas e muito fora de uso. Peço, contudo, que não se envergonhem em usá-las e em pedí-las, por mais que lhes soe estranho e que os outros passem a olhar para vocês como se vocês fossem parte de um passado muito distante e sombrio, quando estas coisas que lhes trago ainda eram de uso corrente.
O que lhes trago, senhores, são coisas simples e diminutas, sim, e não têm valor algum, por isso é errado vendê-las, afixar nelas preços altos e dores que escondem-se na parte de "efeitos colaterais" da bula que - pasmem! - nunca nos entregam quando compramos tais produtos. Pois é... Temos que descobrir o texto da bula experimentando. E posso dizer-lhes, com a sapiência de quem pagou para ver e viveu: os efeitos são lancinantes.
Pois que o que lhes trago hoje, senhores, esta noite são coisas bobas, tolas e piegas: carinho, atenção, amor e disposição.
Agora, o amigo vai passar pelo corredor e quem quiser...

Um comentário:

Lili disse...

Amigo, eu aqui! Mas é de graça mesmo??! Como assim?