Deve haver um ponto para o qual não há retorno. De algum modo, aliás, todos os pontos não têm retorno, já que não podem ser esquecidos. Quero retornar ao ponto em que não havia pontos, nem ao menos esse ponto inaugural de que falo. Seria perder-me no infinito da busca pela pureza da vida e do momento. Queria viver o momento, sem pontos.
A morte não é o final dos pontos. Ela é o último ponto, mas depois dela, seremos tomados como cada um dos nossos atos em vida. Todos os atos: pontos sem retorno.
Ajo e não volto mais para o não agir. A liberdade existe e o homem existe. Mas não existe a liberdade de não se ter um passado. Ele nos espeta e incomoda. Tanto quanto o olhar dos outros. O passado, aliás, só é passado como é porque há o olhar dos outros. Do contrário, poderia ser passado esquecido, um segredo escondido e recalcitrante no fundo de um ser e que pode ser ignorado, como a moeda velha num bolso de um casaco: lá deixada e lá esquecida.
Sempre há a possibilidade de encontrarmos tal moeda novamente, porém. Não há saídas. O passado é um ponto.
Quero existir numa existência em que o passado não conte e em que o futuro não me esteja aberto. Quero usar antolhos! E antolhos especialíssimos que me fariam não ver apenas adiante. Ao contrário, não quero ver adiante! Quero antolhos que me deixem viver apenas o momento presente, como se não houvesse futuro ou passado.
O futuro é assustador, com sua boca aberta e devoradora. O passado é o grande esôfago. O presente é o palato, as papilas gustativas... Mas nem sempre sinto os sabores da ingesta diária. E a vida passa. Simplesmente. Desse corpo estranho que sou, dessa conjunção de tempos, das diferentes flexões verbais, fujo.
"(...) A contemplar as multidões à sua volta, a encher-se com ocupações humanas, a tentar compreender os rumos do mundo, este desesperado esquece-se a si próprio, esquece o seu nome divino, não ousa crer em si próprio e acha demasiado ousado sê-lo e muito mais simples e seguro assemelhar0-se aos outros, ser uma imitação servil, um número confundido no rebanho." (Kierkegaard. O conceito de angústia. São Paulo: Hemis, p. 66, 1968)
A morte não é o final dos pontos. Ela é o último ponto, mas depois dela, seremos tomados como cada um dos nossos atos em vida. Todos os atos: pontos sem retorno.
Ajo e não volto mais para o não agir. A liberdade existe e o homem existe. Mas não existe a liberdade de não se ter um passado. Ele nos espeta e incomoda. Tanto quanto o olhar dos outros. O passado, aliás, só é passado como é porque há o olhar dos outros. Do contrário, poderia ser passado esquecido, um segredo escondido e recalcitrante no fundo de um ser e que pode ser ignorado, como a moeda velha num bolso de um casaco: lá deixada e lá esquecida.
Sempre há a possibilidade de encontrarmos tal moeda novamente, porém. Não há saídas. O passado é um ponto.
Quero existir numa existência em que o passado não conte e em que o futuro não me esteja aberto. Quero usar antolhos! E antolhos especialíssimos que me fariam não ver apenas adiante. Ao contrário, não quero ver adiante! Quero antolhos que me deixem viver apenas o momento presente, como se não houvesse futuro ou passado.
O futuro é assustador, com sua boca aberta e devoradora. O passado é o grande esôfago. O presente é o palato, as papilas gustativas... Mas nem sempre sinto os sabores da ingesta diária. E a vida passa. Simplesmente. Desse corpo estranho que sou, dessa conjunção de tempos, das diferentes flexões verbais, fujo.
"(...) A contemplar as multidões à sua volta, a encher-se com ocupações humanas, a tentar compreender os rumos do mundo, este desesperado esquece-se a si próprio, esquece o seu nome divino, não ousa crer em si próprio e acha demasiado ousado sê-lo e muito mais simples e seguro assemelhar0-se aos outros, ser uma imitação servil, um número confundido no rebanho." (Kierkegaard. O conceito de angústia. São Paulo: Hemis, p. 66, 1968)
Um comentário:
Do caralho...Se este não é seu melhor texto,está entre os 5 melhores...
Tocou na minha e na ferida de tantas pessoas...
Rô, vamos fazer esse blog virar livro????
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