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domingo, 27 de maio de 2007

O grito

Não há lugares para gritar nessa cidade. Os lugares de se gritar já estão cheios de pessoas querendo gritar e, por estar cheio de gente, mesmo todas elas tendo o mesmo desejo, elas ficam caladas, porque gritar do nada não pega bem.
Quero gritar do nada hoje. Se quero, já não é do nada, mas quero gritar sem hora marcada.
Andei pelo aterro. Até atrás do Porcão. As pessoas que não gritam querendo gritar não entendem que simplesmente num dia frio você totalmente pode ir de casaco vermelho e calça jeans para a praia. Estranho é ir de sunga ou biquíni! É uma puta incongruência. O lugar não é o grande ditador de congruências. É o contexto que dita! Pelo amor de deus!
A música no meu ouvido era boa. "Open your eyes", do Snow Patrol. Musiquinha de filme de adolescente, dessas que faz você olhar a paisagem e querer mergulhar dentro dela mesmo estando perto das pedras e o mar sendo sujo.
E teve esse labrador lindo, amarelo, que veio correndo todo desimpedido e esbarrou a barriga forte do lado da minha perna e voltou fanfarrão para brincar. Adoro cães. Tão livres. E corria. O engraçado era que ele olhava pra trás, via o dono, e corria mais rápido ainda para a frente. Acho que eles estão tendo algum problema de relacionamento...
Quero gritar que eu não tenho desses! Era por isso que eu estava ali nas pedras olhando o mar e ouvindo "Open your eyes", mas as pessoas que também foram ali para gritar me impediam de gritar porque não gritavam. Detesto essas pessoas que não gritam porque tem gente olhando! E não! Não tenho espelho!

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