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quarta-feira, 25 de julho de 2007

Kiss me! Please, kiss me! But kiss me out of desire, baby, and not consolation!

(Jeff Buckley - Last Goodbye)



Se vejo na rua um deficiente e seus passos lentos, meu pensamento não deixa de pensar que devagar se chega longe. Sinto-me mal com este pensamento. Descaso com a desgraça alheia? É que há tantas desgraças! e nenhuma, de fato, é alheia.


Tento desviar o pensamento, mas me esqueço que quando caio na deficência do velho em seu caminhar já é desvio. Tudo são desvios.

A vida é uma burocracia chata. E adoro preencher seus papéis, assinar. Me falta o carimbo, contudo. A validação. A certeza da aceitação, com protocolo e assinatura do recebedor.

Queria saber da vida grandes coisas. Mas tudo o que sei é que ela é burocracia pura. As etiquetas. As relações. A boa-educação. Pudera mandar tudo isso para o inferno, mas já não teria uma vida, pois fugiria da burocracia que ela, em si mesma, é.

Uma vida desburocratizada é uma vida de compromissos solipsistas e fujo de mim. Prefiro preencher a papelada e requisitar meus documentos a arriscar encarar a mim mesmo e apenas. Prefiro ter a certeza de poder encarar os outros e deles cobrar as respostas certas.

Um comentário:

Lili disse...

Rodolfo, querido, no entanto você é uma das pessoas menos burocráticas que já conheci.
E quase um auto-didata, não é mesmo? Visto que nunca apanhou para chegar a este resultado, and by "apanhou" I mean...apanhou mesmo hahahaha.

Lembranças de seus comentários no elevador por exemplo, ou na loja de pedras ao perguntar o preço do telefone: "Mas moça, não tem nenhum de quinze reais não?"

Ou antes: O que existe nessa vida de mais burocrático do que se aproximar de alguém? Não se pode chegar assim do nada e zoar a professora com uma colega sem antes se quer conhecê-la, muito menos perguntar na terceira frase se ela gosta de Clarice sem nem saber se ela gosta de ler, muito menos Clarice, até onde se sabe Clarice pode ser a professora de Epistemologia.
:-)
And that's way...I love You.