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domingo, 20 de janeiro de 2008

Da Velhinha que se foi

Ela já ganhou placa de homenagem da Prefeitura da cidade.
Ela andava devargarzinho por conta da idade.
Estava em todos os almoços que minha avó fazia em comemoração de qualquer coisa. E nessas ocasiões eu sempre desconfiava que, apesar do carinho que ela me devotava, ela não sabia meu nome.
As filhas se revezavam para dormir na casa dela, que velhinha precisa de companhia.
Os filhos já brigaram com ela por conta de herança.
AH! Ela já morou na roça, numa época em que banheiro e luz eram luxos a que ela não podia se permitir.
Ia a todos os comícios da cidade e era toda politizada.
Amava o prefeito atual.
Tinha um rostinho velhinho e enrugado, bem enrugado, e aquela pele que parece papel. E cabelo grisalho e os olhinhos caídos.
Quando meu bisavô morreu, ela se mudou de casa. Nessa época, me lembro, eu era pequeno ainda e minha avó me abraçou chorando e dizia no meu ouvido: "Meu filho, eu não tenho mais pai".
Não estou triste, mas tenho medo de que amanhã minha avó me abrace e diga de novo no meu ouvido: "Meu filho, eu não tenho mais mãe".

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