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domingo, 12 de agosto de 2007

A festa de família

Elisinha cantava e no final dizia "é uma dôooor" (acrescento o acento para dar o tom exato) e, de fato, ERA uma dor.

Hoje não sei se é dor. Não tenho "Snapshots". Agi comportadamente na festa de família (ia dizer: "fresta" de família. Ato falho?). Mas a verdade é que não há como: os amo. A todos. Sim. Todos. Mesmo aqueles com quem não tenho contato.

A festa sempre termina. Sempre começa com aquela sensação de "ai que saco, putaqueopariu, vou ter que sorrir por três horas". Aí vem o espaço para a autencidade. Sorrio. Fico sério. Fico alegre, triste, alegre-triste. Vejo as crianças correndo, o cachorro latindo, as crianças com medo do cachorro latindo, o cachorro com medo das crianças com medo... Vejo a mãe negligente sentada tomando cerveja e o filho, sabedor da negligência, pulando na cama elástica de modo a provocar um tombo. Tombo este com o qual ele nunca se machuca, mas ergue-se com cara de choro e vai pro colo da mãe... Para acabar sendo consolado pela tia que se senta ao lado, que a mãe prefere segurar o copo de cerveja.

Meu pai, que sempre disse não ter tempo para aproveitar uma festa porque tinha o famigerado trabalho. O famigerado trabalho de 23 anos que lhe comia o tempo e a saúde. E agora que já não o tem, usa como desculpa a necessidade de ter tudo em ordem para ir dormir. Não pára. Carrega coisas para lá, para cá, de novo para lá, a mesma coisa, só para tirá-la de lugar e sentir-se ocupado. "Meu filho, senta do lado do pai um bocado", disse-me ele agora, agora quando eu já estava sentado ao lado dele e olhei-o com uma cara de "como assim?! Já estou sentado ao seu lado".

Meu avô... Sempre sentado na ponta da mesa. Sempre pousando de patriarca. O galo. O manda-chuva. O grande mestre que de mestre nada mais tem. Não manda em nada mas é como se mandasse. Age como se comandasse a festa, que nem é dele. Não pagou nem por meia tigela... Mas é como se tivesse pago. E fico feliz em vê-lo ali, assim, cantando de galo, como se tudo e todos o pertencessem. Sinto que há vida nele ainda. Por mais alguns bons anos. Quero vê-lo em minha formatura também.

E as tias. As irmãs do meu pai. Sempre ocupadas, sempre tristes, sempre com problemas a contar (mesmo que sejam os da vizinha, da amiga, ou da prima do parente distante lá de Curicia do Norte, esse lugar que nem sei se existe, esse lugar onde mora esse parente distante de onde nem nunca ouvi falar mas que parece ter um câncer. Aliás, parece ter um câncer... Que é de família... Que todos têm! Meu deus! Será que eu vou ter?!). Elas, com seus netos nas mãos, limpando as golfadas das crianças. A linda priminha de olhos verdes e bochecas gordas e rosada... Sua roupinha rosa. E a avó, baloiçando-a para lá e para cá.

E os primos. Aquela que senta do meu lado e diz: "Não sei o que faço... Gosto dele mas não sinto o mesmo ânimo". E aquela que diz: "Primo, vou te visitar", mas ela sempre diz e nunca visita... Eu também faço o mesmo: sempre digo e nunca visito. Falamos todos também sobre a querida prima-irmã que está longe, muito longe... E todos temos saudades. Quanta saudade! Parece que a vida parou e todos esperamos a volta dela para que os assuntos sejam, de fato, colocados em dia.

A tia que me abraça e comenta que estou alto. Ela sempre comenta que estou alto e há anos que não cresço.

Sinto saudades de todos e uma tristeza nostálgica dos minutos que acabaram de se acabar. E prometo-me, mais uma vez, "durante a semana, ao longo deste ano, vou me reaproximar de cada um deles" e tenho a ligeira sensação de ser capaz de mudar a vida de cada um.

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