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quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O tempo futuro e o instante

Quanto mais eu me entregava,
mais nascia o meu desejo,
mais sobrava só o desejo e mais eu te
Queria sem palavras e sem pensamentos.
(José Vicente)
Pois que havia o desejo, e só o desejo, de nada lhe servia pensar e planejar. Cada instante era um novo instante. E cada novo instante se resumia em si e era tudo. A vida passou a ser cada um dos instantes e nunca era a soma de todos eles. Se muito, era a espera de mais um novo momento. Momento totalmente novo, que os anteriores eram logo esquecidos, deixados no canto, como um brinquedo antigo que perdera a graça.
Nada perdera a graça, contudo, pelo tanto brincar. Tudo perdera a graça pela grande espera da nova graça, do novo brinquedo para o parque do que era sentido.
Já fora o tempo em que esperava, assim como uma criança espera o natal, que a vida fosse uma sucessão de fatos. Também era passado o tempo em que esperava que a vida fosse um grande dicionário, cheio de definições e compromissos renitentes. Ao entregar-se ao momento, desejava o compromisso com o instante, com o segundo vivido. E depois de vivido, tendo cada um seguido seu rumo, a vida se transmutava em nova espera.
Não percebiam ambos que a espera era tão constante que se formava em compromisso. Havia um compromisso com a espera. E isso era tudo. E isso não seria um compromisso como qualquer outro? A aposta tinhosa naquilo que, não se sabe mas espera-se, virá?
O tempo era um grande relógio de cordas. Por mais que dessem corda, seguia seu ritmo acurado. Sabiam que quando chegasse o tempo, algo despetaria em cada um. Saberiam a hora. Saberiam quando chegassem na esperada hora.
Vivam, pois, o tempo presente, que o tempo futuro se aproxima! O tempo futuro... Chegou.

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