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quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A Sessão

(Texto escrito em 13/11/07)

- Eu sei que o certo seria eu dizer pra ele: ó, seguinte, eu não te amo mais, mas não consigo.
- Você não consegue se posicionar.
- É. Fico assim, no meio do turbilhão. Porque sei bem o que quero, mas não consigo.
- Você não vê outra solução além de ficar na situação em que está.
- Isso! Mas eu não quero ficar onde estou!
- E como sair?
- Ué, dizendo que não dá mais.
- Mas isso você não consegue. O que ainda dá para fazer?
- Acho que eu preciso mesmo é ter a certeza de que a outra pessoa gosta de mim.
- É preciso que o outro te assegure para que você, só então, possa tomar uma decisão.
- Não consigo sozinho.
- E assim vai vivendo: esperando que alguém te ajude a decidir e a se posicionar, mesmo que essa espera te cause dor.
- Isso mesmo, doutor. Eu vou vivendo assim! E dói! Dói mais ainda porque eu tenho a certeza de quem eu quero.
- Mas a certeza de quem você quer não lhe dá a certeza de que é esta é a decisão certa...
- Não! Não é isso. É a decisão certa, eu sei. Quer dizer, eu sinto que é... Mas a questão é: e como vai ficar este que está comigo? Quando penso nele, eu paro, não faço nada. Ele vai sofrer, eu acho.
- Talvez ele sofra. E enquanto ele sofre na sua idéia, você sofre aqui, agora.
- É, mas e depois? E se eu sofrer mais? Também penso assim, ó: e se eu deixo ele, fico com o outro e nada dá certo...?
- Você teme abrir mão do que já tem, já que não tem garantias de como as coisas vão vir-a-ser. Não larga o osso, mesmo não gostando tanto desse osso, tanto que sabe que não é esse que quer, e sim o outro. Mas fico pensando... O quanto de fato você gosta do outro osso...? Ou será que o que te atrai nele é exatamente o caráter de irrealização, de pura idealização que o reveste?
- Não! Sei que é ideal... Mas sei também desde sempre que o que quero é que saia desse campo. Doutor, você sabe tão bem quanto eu quase que eu, desde o começo, tento encontrar-me com ele! Sempre tentei! Ainda agora, mesmo estando com quem estou, eu tento.
- Você percebe que, mesmo com quem está, age no intuito de conseguir ter quem deseja.
- É. Eu sei que não é certo, mas... Tento todas as noites... Todas as noites penso nele, todas as manhãs também. E penso: será que se eu ligar agora ele me atende? Mas aí tenho medo e não ligo, assim como tem noites em que tenho medo de que ele esteja online no bate-papo, e que nos falemos e tudo seja bom como sempre foi e que me encontrar com quem eu estou se torne de tal maneira insuportável que eu já não seja senhor de meus impulsos e acabe terminando tudo sem nem ao menos refletir ou expor as coisas de modo que haja menos sofrimento.
- Você teme muitas coisas: teme fazer o outro sofrer, teme que o outro seja bom contigo... Não age por temer o outro. Mas para que você teme?
- (Silêncio prolongado) Não sei... Talvez eu tema por... Talvez... Bem, eu acho que eu tenho medo de fazer o que quero. Aí fico pensando nos outros. Mas é o que quero, né? Fazer o que se quer não pode ser tão errado, não é verdade, doutor?
- Mais uma vez você quer que o outro te assegure de suas escolhas: agora você quer que eu te diga se o que você escolhe é certo.
- (Riso solto. Pára de rir) É... Acho que você tem razão. Aliás, eu faço isso sempre. Vivo perguntando às minhas amigas o que fazer. Na verdade, não pergunto o que fazer... Eu apenas conto a história. Sei que elas vão dar opinião em algum momento. Elas acham que eu devo ficar com quem estou mesmo. Ele é uma boa pessoa.
- Mas parece que ser uma boa pessoa não tem bastado pra você.
- É... Nunca bastou. Eu sei que fiquei com ele pra evitar entrar em contato com o fato de que o outro me era impossível naquele momento.
- E agora que o outro está aberto pra você, é impossível fugir e não encarar esta possibilidade: a de que vocês fiquem juntos.
- É. É impossível.
- Pois bem... Impossível é agora continuarmos aqui, nesta sala. Seu tempo terminou. Mas há muito tempo lá fora, onde é possível realizar muitas coisas.
- Verdade... É isso que tanto me assusta.
- E ainda assim é para essa realidade que te assusta que você acorda todos os dias. Nos vemos semana que vem.
(E despedem-se)

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