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sexta-feira, 13 de abril de 2007

Sempre tentava falar com a menina. Nunca obtinha respostas. Talvez prefira não dirigir-me palavras, pensou ele logo após uma das tentativas e decidiu que evitaria cumprimentá-la caso esbarra-se com ela por aí.
Acontece que nem sempre o que o homem decide é o que se apresenta para ele. Sartre chamaria isso de facticidade: os fatos nem sempre são bons e o homem deve lidar com esses fatos. E fatos se apresentam desde sempre nessa breve história.

Professor, posso falar rapidinho com os alunos, perguntou ele ao abrir a porta. Era apenas uma questão política sobre o ensino. Gostava de questões políticas. Sentia-se vivo movendo-se em prol de algo que não seu próprio bem-estar.
Colocou-se próximo à mesa do professor e olhou ao redor. Turma de iniciantes. Calouros, se preferir. Sabia disso. E olhava a turma. E viu a tal menina.
Tinha decidido, poucas horas antes, na terapia que ficaria algum tempo só. Mas não era essa vontade que tinha ao ver aquela menina sentada no canto superior esquerdo da sala, junto às amigas. Certamente, teria que lidar com sua vontade, que agia a contragosto de si mesma.
E no meio de seu texto sobre como as questões eram importantes, a menina levantou-se e saiu, ao que ele penso "De fato, não é alguém com quem eu virei a falar, como bem imaginara".
Surpresa, porém, teve ao sair de sala. Ela propôs ajudá-lo de algum modo com a causa. Voltaria para a sala, assinaria o tal papel e o guardaria para entregar ao rapaz no dia seguinte.
Ele aguardou pelo dia seguinte ansiosamente, com a esperança e a certeza de vê-la de novo. Pensava obsessivamente como estaria o papel: imaginava o quanto da personalidade da menina estaria revelado no modo como ela lhe entregaria aquelas folhas. Se rasgadas, diriam algo; se amassadas, outro algo, e assim por diante.
Qual nada! Estavam as folhas guardadas em um saco plástico, organizadas na ordem de entrega. Mas o que mais esperava era a oportunidade de falar com a menina, o que não se concretizou. Para os gregos, a oportunidade é uma deusa que se apresenta aos homens quando bem entende. Para o rapaz, as oportunidades são criadas pelos próprios homens e fora ele, portanto, quem não criara a oportunidade de falar com a menina. Convenceu-se, assim, de que nunca mais falaria com ela.

Encontrei-o em uma comunidade, ela escreveu-lhe num site de relacionamentos.
Novamente, todas as certezas do rapaz esvaíram-se. Tão certo de que ela nunca, por ser quem era, lhe dirigiria a palavra novamente, já tendo feito demais em lhe ter ajudado com os papéis aquele dia, era ela ali escrevendo-o.
Ansioso, pensou no que escrever. Nada conseguiu digitar, porém, que não achasse descabido demais para a situação. Imaginava sempre que aquele, exatamente aquele, seria o último conjunto de palavras a serem trocadas.

Sempre tentava falar com a menina. Nunca obtinha respostas. Talvez prefira não dirigir-me palavras, pensou ele logo após uma das tentativas e decidiu que evitaria cumprimentá-la caso esbarra-se com ela por aí. Mais uma vez, como não poderia deixar de ser, convenceu--se disso e seguiu adiante.
No entanto, os fatos... sempre os tais fatos.
Saindo de uma prova com uma amiga, conversava exatamente sobre como sentia-se só e nunca encontrava alguém interessante. Então, lá vem a menina. E a amiga aponta para ela freneticamente dizendo: tem que ser ela, não sei, alguma coisa... acabei de vê-la mas tenho a certeza de que tem que ser ela.
Preferiu não falar nada sobre como ele pensava o mesmo. Nem ao menos sobre o fato de que já tentara falar com ela algumas vezes e nunca obtinha respostas. Apenas fez um comentário sobre o escândalo que a amiga fizera e sobre como era mal-educado ficar apontando para as pessoas que passam por aí.
Entretanto, voltando para casa, pensou. Pensou. Pensou. E então, pensou mais um pouco e lembrou-se de todas as vezes em que apenas pensou e nada fez. Decidiu escrever algo para ela. Mas ela antecipara-se, como não poderia, novamente, deixar de ser. Eram os fatos cortando as certezas do rapaz e jogando-as fora, colocando-as no lugar que mereciam ocupar: de meras ilusões. A menina escrevera para ele. E dizia:

"Acho que te vi hoje na faculdade, mas de relance...Você faz a noite mesmo? "

Ao que respondeu:

"Rs rs me viu sim. Eu tb t vi rs. Na verdade, bem de frente. Eu estava saindo e vc entrando e minha amiga comentou: nossa q menina bonita rs.Mas como a senhorita nunca está online e eu venho tentando falar com vc e vc nunca responde... rs Achei melhor nem falar nada rs... Então, faço aula à noite sim. De manhã tb. Estou todo enrolado este período.Qual é a boa do final de semana? Cordel do Fogo Encantado na Fundição. Vamos? "

E pela primeira vez depois de todos os dias, conversaram.
Decidiu que a convidaria para algumas coisas, esperando que ela dissesse não de pronto. Não ouviu não. Mas também, não ouviu sim. E decidiu, como sempre, que ela sempre dirá não e fica a espera de que os fatos se mostrem reais e não apenas ilusão.
Hoje, está de saída. Acabara de ouvir uma música que ela deixara para ele baixar. E, apesar de pensar que o fato é que não a verá e não ouvirá mais dela (especialmente após esta história), espera de verdade e pela primeira vez, que os fatos que imagina serem fatos sejam simplesmente ilusão.

2 comentários:

Lili disse...

Hummm....hahahahahahahahahahahahahahahah.

Tá apaixonado!!

Desculpe, ok, ok, mas ela nem sabe deste blog...ou sabe? Ih....bom, mas o que importa é que ela é linda mesmo, e fui eu mesma quem notei! :-D

bjs

Rodolfo Souza disse...

Lili, your "aunt" (not to say aquilo que vc me mandou dizer mas a palavra bem q lembra! rs rs).

Mas tá perdoada, por causa do conto do leilão! rs rs