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quinta-feira, 7 de junho de 2007

Niño del amor, abre tu corazòn

No hospital, gazes ensagüentadas e pontos. O coração parava de bater. Não havia mais o que fazer. A equipe já havia feito de tudo para reanimar o jovem suicida.
Tudo agora era uma questão de tentar descobrir algum parente mais próximo ou amigo. Alguém teria ido com ele até ali? Não... Chegara trazido por uma ambulância que fora pedida por um transeunte.
Abrira o peito na Praça Quinze. Rasgara a pele do peito e atingira o coração, que fora aberto em dois. Podia-se muito bem ver a cavidade do átrio esquerdo e parte do ventrículo direito. Corte profundo. Difícil de se ver hoje em dia, a não ser nas mesas de cirurgia. Nenhum suicida teria ido tão longe.
Nenhum documento. Talvez venha a ser enterrado como indigente.
O corpo sobre a maca. A equipe já desistira de reanimá-lo há alguns segundo. A enfermeira do turno da noite cobre o corpo. Mãe de duas filhas e um rapaz que talvez tenha a mesma idade daquele ali morto a sua frente, não conseguiu não pensar no que poderia tê-lo feito matar-se. "Tão jovem", pensou. E por mais que pensasse, nunca conseguiria compreender o que houve na porta da boate próxima a praça Quinze aquela noite e que levou o rapaz a abrir o peito minutos depois, bem no meio da mesma praça.
- E eu disse "te amo" - exclamou o rapaz.
- Mas apenas disse...
- E o que queria mais?! Que eu me jogasse na frente do seu carro?
- Não. Não precisava disso!
- Então me diz, porra! O que queria?
As lágrimas já rolavam pelos olhos da menina que, assustada, respondeu:
- Por quê? Por que não consegue dizer e sentir ao mesmo tempo?!!!
- Como?
- É isso: você diz sem sentir. E sente sem dizer e sozinho. Sente, mas só, na imensidão de sua solidão. Não sente na minha frente. Você não é capaz...
- Não me diga do que sou capaz!
- (Gritando em meio ao choro) Você não é capaz de sentir! Você não é capaz de arriscar-se e fazer-se aberto na frente dos outros!
- Mas eu falo sobre tudo com todos. Como pode? Realmente você não me conhece e...
- E, o quê, Pedro? E, o quê? Agora vai dizer que não me ama, que disse só da boca pra fora?! Mas é disso que eu to dizendo e você não enxerga, seu merda! Tudo que diz é da boca pra fora! Ultimamente não há você naquilo que você diz... Só descompromissos, só falas descomprometidas!
- Você não pode estar falando sério. Não, não pode. E aquele dia na casa de sua mãe em que eu chorei quando seu pai contou de quando você nasceu?! Isso não é abrir-me? Não é mostrar o que penso e o que sinto?
- Não, Pedro! Isso não é abrir-se, a não ser quando há sinceridade nesse ato. Você perdeu a capacidade de expor-se! Diz "te amo", mas não está presente em nenhuma dessas cinco letras!
- Então, diz, porra! Diz o que eu faço?
- Não sei! (soluços) Não sei!
- Chegamos ao ponto sem retorno? (aos gritos) É aqui que tudo termina?
- Não quero que seja... Apenas... Menino amado, abra seu coração!
PS.: Brega, mas eu tinha que usar a música do Praga Khan "Picasso's dream" para fazer algo... rs

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito, muito bom.
;)
E extremamente pertinente.