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sábado, 9 de junho de 2007

Snapshots II

Seis homens em volta de uma mesa de aniversário. Nenhuma cerveja ou bebida por perto. Um bolo e salgadinhos por sobre a mesa. E a conversa:

- Mas é uma bezerrinha boa aquela - disse Paulo.
- Poxa, mas aquelas que te mostrei aquela vez... - retrucou o outro.
- Mas daquela ninhada, eu tenho dificuldade de tirar o leite - respondeu o avô - minhas mãos até doem.
- Gente, mas qual o problema?! É só pararem de tirar o leite! - disse eu. (Risos em volta em tom de "vamos ignorar o comentário")
- Mas, seu Antônio (meu avô), mesmo assim daquela vez tu me deu manta! (risos) Pagou muito barato e sei que você anda vendendo bem aquele gado.
- E pra dar leite, Antônio, tem que ter bom pasto - disse o cunhado do meu avô. O clima ficou estranho... Todos entenderam que ele estava querendo dizer que o pasto do meu avô não era bom.
- E a Penha (minha avó) que não chega - comentou meu avô olhando para o relógio, claramente tentando amenizar o clima. - Disse que ia chegar às oito e já são quase nove! Essa missa que não acaba.
- Mas você não sabe viver sem ela? Sirva você os convidados! Além do mais o aniversário é seu - retruquei, na tentativa de falar de alguma coisa sobre a qual sei pouco, mas um pouco mais do que de vacas: relacionamentos.
- Ué (com cara de macho esperto-filho-da-puta), mas me casei para quê, então?
- Olha para o que o senhor se casou, eu não sei. Mas se quiser que eu desenhe ou te explique por que em geral as pessoas se casam eu posso explicar e, quase sempre, não é só para ser servido no aniversário - respondi.
- Amanhã vou tirar leite - interrompeu Paulo em voz alta.
- Ah, é? - meu avô virou a cabeça completamente me ignorando. Realmente tirar leite de vaca é mais interessante.
- E quanto tem conseguido - perguntou o outro.
- Uns dez litros, né, pai? - disse meu primo, o que com 17 ainda dorme na cama dos pais.
- Poxa, mas Pacheco, não quer mesmo meus bezerros? - insistiu meu avô.
- Seu Antônio, não to podendo comprar animal nenhum agora...
- Além do mais, Pacheco - disse eu - bezerro do meu avô não presta. Faz cinco anos que ele me deu esse bezerro. O bicho ainda é bezerro e já mudou de cor umas vinte vezes... Não entendo.
Risos. Acho que todo mundo entendeu que meu avô gosta de tentar me passar a perna.
Ele enrubescera.
- Então quer dizer que o bezerro que teu avô te deu nunca cresce? - perguntou o tal Pacheco.
- Crescer cresce. Mas aí quando volto pra ver, ele já diminuiu e mudou de cor... Tenho a impressão que quando vira vaca, deixa de ser meu, porque passa a valer mais...

Definitivamente, eu não sirvo para os negócios da família.

FIM do primeiro ato.

PS.: Não gosto muito da onda de "atos falhos", mas na frase acima, ao invés de escrever "sirvo", escrevi "servo". Será que quer dizer algo?

Um comentário:

Lili disse...

AHghhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

"Eu não AGUENTO isso!"