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terça-feira, 4 de setembro de 2007

Corria por uma rua.

Corria por uma rua. Rua. Ruía a rua. Ruía o mundo, tudo caia, tudo desabava. O chão por onde pisava caía. E ele corria. Talvez para tentar não desabar com o mundo, corria. Debatia-se contra tudo aquilo que estava ao seu redor. Diriam Rema contra a maré, mas já nem há maré, nem mar, só concreto.
A concretude se fez presente no modo da impossibilidade. Já havia coisas impossíveis e, mesmo que possíveis, continuariam impossibilitadas. A concretude o prendia a seus pensamentos e o fazia dar passos largos entre o mundo que ruía. O prédio a sua frente começara a desabar antes mesmo que ele passasse por ele.
Era dessa maneira, comum aos filmes (poderíamos chamá-la de clichê): o mundo começou a ruir e ele decidiu correr. Após sua passada, o local exato em que seu pé havia pisado fazia-se nada. Mais ele corria, pra tentar não ser dragado pelo chão que se abria. E mais o chão se abria, porque mais pedaços de chão seus pés pisavam e percorriam.
A rua ia se estreitando... Ele já começava a pensar se haveria ainda uma saída dali quando chegasse ao fim. Ou seria o fim simplesmente O Fim, assim, com maiúscula para destacar a finitude e a importância do final.
Corria... Corria... E era como em um daqueles sonhos em que quanto mais se corre, mais devagar se vai. Para manter os paradoxos, quanto mias devagar, na verdade mais rápido ele ia. Sentia-se levado pela maré das circunstâncias. Tudo já era tão sem sentido e tudo já estava tão “nadificado” atrás dele, que decidiu deixar-se levar e, nesse jogo de ser levado, o ritmo era também o de corrida.
Nada para ele poderia ser diferente: deveria tudo ser uma grande corrida, ansioso que era. Dessa vez, certamente não estava feliz em correr. Era a vida que lhe impusera a tal concretude. Ela mesma também lhe trouxera o desespero e este foi o que lhe fez correr e ver seu mundo ruir.
Agora, ainda no caminho de corrida, vendo a rua se estreitar, sentindo-se sufocado por tudo e vendo o caminho que estava deixando para trás tornar-se nada, já sendo levado pela maré das circustâncias e desistindo de correr e de tentar uma saída para uma das esquinas que às vezes enxergava a sua direita ou esquerda, pensou que valeria mesmo a pena esforçar-se contra a tal maré e deixar-se cair no vão da nadificação, esperar que o princípio de seu fim se dê ao invés de correr dele alucinadamente. Começou a fazer força. Agora sim remava contra a maré. Esforçava-se para parar. Olhou para trás e havia o nada ali. Nem escuridão era. Era nada. Foi quando decidiu olhar mais uma vez para a frente.

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