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quinta-feira, 13 de setembro de 2007

O ridículo jogo do gostar

"Love's a two way dream"
(Bjork - Bachalorette)

Andava por uma rua estreita e, a medida que caminhava, a medida que avançava a passos rápidos, respiração ofegante, a rua se estreitava cada vez mais.
Tudo começara quando ainda novo. Marina. Ainda era capaz de se lembrar do nome, do jeito, do rosto, do cheiro. Filha da amiga da amiga da mãe. Nunca sentira aquelas coisas antes de vê-la entrando na sala no primeiro dia de aula: o coração disparado, o suor escorrendo pela face, as extremidades carentes de sangue, o rosto pálido. Tudo se assemelhava a um grande susto. Menos Marina. Ela não era um grande susto: era a descoberta do amor, a descoberta do começo da rua larga, daquela imensa boulevard, bela, arborizada, ampla.
Depois veio Nicole. Cabelos de índia, sorriso de moleque. E foi quando, pela primeira vez, arriscou olhares, fortuitamente surpreendidos por ela. Foi quando, pela primeira vez, arriscou dizer o que sentia. Sem surpresa, vira assim as lindas árvores do boulevard morrerem, minguarem e virarem nada mais que plantas secas e estéreis.
Depois vieram outras... Outras e outros que o mundo moderno é uma série de possibilidades. Não que estas não estivessem presentes desde sempre, mas é que a modernidade e sua descartabilidade nos abrem os caminhos. Mas...
Mas ali estava ele. Andava por uma rua estreita e, a medida que caminhava, a medida que avançava a passos rápidos, respiração ofegante, a rua se estreitava cada vez mais.Olhava para os lados e tudo o que conseguia ver eram as paredes opressores de prédios altos e sem reboco. A sensação estranha de que, a qualquer momento, um dos tijolos que revestia a parede de um dos prédios ao redor, se soltaria e lhe acertaria em cheio a nuca, tirando-o do ridículo jogo do gostar. Gostar poderia ser nobre, mas era sempre um jogo ridículo: era admitir a baixeza indefesa do ser homem.
PS.: Texto escrito em às 11h29m do dia 14/08.

Um comentário:

Rodolfo Souza disse...

EI, então, Lili comentou antes q eu acidentalmente deletasse o texto:

"NUnca entendi esta metáfora".

E é o seguinte: a rúa é a representação da vida do personagem, que, de longe, não tem naaaaaaadica de nada a ver comigo rs.