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terça-feira, 4 de setembro de 2007

O Retorno

Não tinha suspirado, não tinha beijado o papel devotamente e nem era a primeira vez que (aqui devo mudar e não mais parafrasear) sentia aquelas sentimentalidades, como diria um Eça há tempos atrás. É que na modernidade, ainda há papel mas este quase não se usa, é melhor não suspirar profundamente que o ar nos grandes centros é sujo e, apesar de não ser a primeira vez que sentia tais sentimentalidades, era a primeira vez que as sentia daquele modo.
Já havia muito que não se falavam propriamente. Já havia muito que ele deixara de lado o medo de perder e substituído pela vontade de desistir. É que o medo tem desses meandros: faz-nos crer que queremos aquilo que menos desejamos, aquilo que é exatamente o oposto do que esperamos. As longas conversas noturnas haviam sido trocadas por breves palavras ao telefone ou pequenitas mensagens ao longo do dia.
O retorno daquele que se gosta, de esperado, passou a ser temido: como seria o reencontro? Depois de tanta distância, como resgatar a proximidade? Seria necessário um grande esforço, pensava ele. A esta altura, já deve estar gostando de outra pessoa, daquele que o acompanha, já deve ter desistido e voltado à sua vidinha, pensava.
Eis que chegara o dia do retorno. E, tremendo pelo encontro, marcara outros compromissos e não foi esperar pela pessoa, como desejaria fazer. Ausentou-se... Melhor ausentar-se do que correr o risco de perceber que, de fato, tudo o que temia era verdade, que realmente havia perdido.
E então chega em casa e encontra por sobre a cama uma pequenita mensagem: "Espero-te. Venha.". Mas não foi. AO invés, deixou outra mensagem: "Não pude, demorei demais na rua com amigos", ao passo que o que queria dizer era: "Perdão, mas tive medo".
Entretanto, nem tudo pode-se evitar. Não sempre. E no dia seguinte, o reencontro se deu.
Como diz Kundera: era como se entre um e outro houvesse uma planícia gigantesca, repleta de gelo, neve. Havia o frio instalado entre ambos. E conversaram sobre ele.
Na vida, as coisas são assim: é quando menos esperamos, quando mais tememos e quando começamos a notar que os caminhos que não queríamos é exatamente aquele que percorremos, é nesse momento que tudo começa a arrumar-se. Pois foi assim: quando começou a pensar que não tinha jeito e que realmente havia perdido no jogo do gostar, começou a recuperar o tempo perdido. Começaram, melhor dizendo.
A neve, o gelo, o frio, rapidamente se desfizeram. O calor novamente. A luz. O acalanto.
Assim foi o retorno. Assim foi o reencontro. Assim é o recomeço.

Um comentário:

Lili disse...

PTQPARIU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Ai...que orgulho.